sexta-feira, agosto 17, 2007
MINHA VIAGEM À ITÁLIA (Il Mio Viaggio in Italia / My Voyage to Italy)
Se há algo de pouco vantajoso em se assistir a MINHA VIAGEM À ITÁLIA (1999) é a grande quantidade de spoilers que Martin Scorsese conta para o espectador. Scorsese chega a fazer um resumão de alguns filmes, contando até o final. Mas o importante é que a paixão que ele devota a esses filmes é contagiosa. E eu me vi morrendo de vontade de ver pela primeira vez filmes como SENSO (1954), de Luchino Visconti; UMBERTO D (1952), de Vittorio De Sica; EUROPA '51 (1952), de Roberto Rossellini; entre outros. Inclusive, fiquei bastante surpreso com a comoção que senti ao ver uma única cena de LADRÕES DE BICICLETAS (1947). Lágrimas rolaram. E eu percebi o quanto estou em débito com o cinema italiano. Dá até vergonha de dizer, mas nunca vi sequer um longa-metragem de Rossellini nesses quase vinte anos de cinefilia. Mas em breve, tratarei de diminuir essa dívida. É só questão de tempo.
Nesse sentido, MINHA VIAGEM À ITÁLIA é um poderoso empurrão para que as platéias jovens possam se interessar pelos trabalhos de Rossellini, De Sica, Visconti, Fellini, Antonioni. E é também uma maravilha para aqueles que já conhecem as obras em questão. São quatro horas de documentário que passam voando. E a gente lamenta quando acaba. Poderiam ser seis ou oito horas. Até para que outros cineastas importantes fossem também citados. Senti falta de uma abordagem, pequena que fosse, do cinema fantástico italiano, do cinema político e do cinema policial. Mas como se trata de uma viagem pessoal, não posso reclamar. Scorsese falou do que mais o tocou, dos filmes que mais o influenciaram. E no que se refere às influências, o cineasta declarou que OS BOAS VIDAS (1953), de Fellini, influenciou o seu CAMINHOS PERIGOSOS (1973), e que SENSO foi inspiração para A ÉPOCA DA INOCÊNCIA (1993).
Para tornar o documentário ainda mais pessoal, Scorsese chega a mostrar uma filmagem antiga de sua família em Nova York. Para ele, é muita emoção ver seus avós e seus pais naquele filme. Ele conta que quando passava na televisão filmes italianos, seus familiares mais velhos ficavam com os olhos grudados na tela. Quando a sua família se reuniu para ver na televisão PAISÀ (1946), de Rossellini, eles ficaram ao mesmo tempo tristes e alegres, imaginando como estariam se não estivessem nos Estados Unidos, livres da guerra que assolava a Europa e com melhores condições de vida do que na Itália.
Quanto aos filmes italianos da década de 60, Scorsese dá ênfase aos trabalhos de Fellini e do recém-falecido Michelangelo Antonioni. Inclusive, foi por causa da morte de Antonioni que eu tomei a iniciativa de ver logo esse documentário. Assim como vi A HORA DO LOBO, por ocasião da morte de Bergman, queria fazer o mesmo com Antonioni. Mas, como não tinha nenhum filme dele no meu estoque, acabei optando pelo doc do Scorsese. Os filmes de Antonioni que Scorsese mais destaca são A AVENTURA (1960) e O ECLIPSE (1962), justamente dois que eu nunca vi. Se eu não me engano, há também certo destaque para PASSAGEIRO - PROFISSÃO REPÓRTER (1975). Do Fellini, além de OS BOAS VIDAS, Scorsese fala da importância para o cinema mundial de obras-primas revolucionárias como A DOCE VIDA (1960) e 8 E 1/2 (1963).
Agradecimentos especiais ao amigão Renato Doho pela valiosa cópia.
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