domingo, julho 22, 2007
INFERNO (L'Enfer)
Em 1994 Emmanuelle Béart protagonizou um filme também de nome L'ENFER que no Brasil foi batizado de CIÚME - O INFERNO DO AMOR POSSESSIVO. Esse brilhante filme de Claude Chabrol mostrava um homem perturbado pelo ciúme, pela desconfiança para com a sua bela esposa. Em INFERNO (2005), de Danis Tanovic, os papéis se invertem e é Béart quem sente ciúme do marido, ainda que dessa vez seja com razão, já que o sujeito estava realmente a traindo.
O inferno é o outro, como dizia Sartre. Geralmente, a gente está sempre sofrendo por causa de alguém ou por não ter alguém. Quando estamos sozinhos e contentes, mesmo estando sós, há um sentimento de paz bastante acolhedor. Eu mesmo estava experimentando essa paz quando parti para a sessão matutina de sábado. Mas foi só eu olhar para um espetacular decote de uma jovem que estava perto da fila da bilheteria que essa paz foi meio que perturbada pelo desejo. A paixão e o desejo são necessários, pois são eles que nos movem. Sem eles, talvez a nossa vida sequer mudasse, talvez não saísse do lugar. Mas a paixão e o desejo também são responsáveis pela descida ao inferno de muitas e muitas pessoas.
INFERNO é o segundo filme da trilogia idealizada por Krzystof Kieslowski e Krzysztof Piesiewicz, inspirada n"A Divina Comédia", de Dante Alighieri. O primeiro filme do projeto, PARAÍSO (2002), não foi muito bem recebido pela crítica, mas eu gostei bastante, ainda que o espírito dos filmes de Kieslowski não tenha sido muito bem assimilado. O segundo título, assinado pelo bósnio Danis Tanovic, de TERRA DE NINGUÉM (2001), emula muito mais o trabalho do cineasta polonês, até por ser falado em francês, língua utilizada na Trilogia das Cores.
INFERNO conta a história de três irmãs que vivem distanciadas e que guardam em comum uma tragédia familiar. Céline (Karin Viard), a mais velha é a que mais toma conta da mãe, visitando-a com freqüência num asilo para idosos. Ela é solitária e devido ao longo tempo sozinha fica assustada com a aproximação de um certo rapaz. Emmanuelle Béart, já não mais tão bonita quanto na época de A BELA INTRIGANTE, é Sophie, uma mulher que se humilha diante do marido que a trai. Alguns dos melhores momentos do filme são dela, como na cena em que ela vai até o motel e sente o cheiro da amante do marido, que se encontra dormindo na cama; ou quando ela sai do chuveiro, nua, e se encosta no corpo do esposo. A terceira e mais nova irmã é Anne (Marie Gillain), uma jovem que está perdidamente apaixonada por um homem bem mais velho do que ela, um professor universitário, pai de uma de suas amigas. Quando esse homem desiste dessa relação para não prejudicar o seu casamento, ela enlouquece e passa a perseguí-lo por todos os lugares.
A ligação entre as três se dá a partir do surgimento de Sebastien, o tal rapaz que persegue Céline. Ele é o elo da reunião das três irmãs e do esclarecimento de um trauma que as perturba desde a infância. Os homens com que essas três mulheres se relacionam ligam-se de uma forma ou de outra com a relação de seus pais. A paixão de Anne por um homem mais velho talvez se dê pela carência, pela saudade que ela tem do pai morto, ou pela necessidade de mais tempo com ele. Mas como eu não sou psicólogo, páro por aqui. O mais importante é que o filme é ótimo e de uma elegância e sensibilidade de dar gosto.
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