A distribuidora Europa melhorou muito de uns tempos pra cá. Antigamente, se um filme era distribuído pela Europa era sinal de que ia ganhar um péssimo tratamento. O melhor (ou pior) exemplo disso é o de CIDADE DOS SONHOS, de David Lynch, lançado (leia-se mutilado) em fullscreen. Agora, a Europa está investindo em filmes de primeira classe. O melhor exemplo disso são os filmes de Eric Rohmer que a distribuidora está lançando no Brasil. Todos os filmes da série "Comédias e Provérbios" e os quatro da série "Contos das Estações" estão disponíveis para o espectador brasileiro que não teve a chance de ver os filmes no cinema.
Da série "Comédias e Provérbios", loquei nesse final de semana passado NOITES DE LUA CHEIA (1984), que Rohmer filmou entre os ótimos PAULINE NA PRAIA (1983) e O RAIO VERDE (1986), ambos já comentados aqui no blog. Pode até não ser tão bom quanto os seus "vizinhos", mas o importante é que NOITES DE LUA CHEIA tem aquele toque do diretor tão apreciado pelos fãs. E esse toque rohmeriano vai nos conquistando aos poucos. Quando menos esperamos, já estamos completamente envolvidos na divertida trama de confusões em que seus personagens se metem.
Nesse filme, temos a estória de Louise (Pascale Ogier), uma jovem que vive com o namorado Remi (Tchéky Karyo) numa cidade próxima de Paris. Ela se sente um pouco incomodada com o amor possessivo do namorado e precisa de um espaço só pra ela. Assim, ela decide reformar o seu apartamento em Paris para passar a sexta e o sábado sozinha lá. Louise acredita que a distância fará bem para o relacionamento, mas Remi não gosta nada da idéia. Em Paris, ela costuma se encontrar com o amigo Octave (Fabrice Luchini), sujeito que é casado, mas que é doido para dar umazinha com a amiga, embora ela seja bastante resistente e não queira estragar a amizade. Falar mais pode estragar um pouco para aqueles que ainda não viram o filme, mas afirmo que a coisa só melhora da metade pro final.
Acredito que Rohmer substitui um pouco o que o cinema de Woody Allen representava para mim um tempo atrás. Não sei dizer porque, mas ver os personagens expressando seus desejos, seus pensamentos e suas angústias como se estivessem num consultório de psicanálise me dá muito prazer. E isso independe de que haja ou não, da minha parte, qualquer identificação com o que os personagens sentem ou pensam. Se bem que eu até me imagino um pouco na situação de Louise: dentro de uma relação estável, mas com vontade de voltar a ter o meu cantinho, a minha individualidade, a minha liberdade e até mesmo a minha solidão.
Outra coisa que eu andei reparando nos filmes de Rohmer é que - posso estar enganado, me corrijam se estiver - seus personagens não assistem televisão. Pelo menos, não vejo tevê nos quartos ou nas salas deles. É como se a televisão impedisse as pessoas de viverem e por isso o diretor prefere ignorá-la para que seus personagens possam viver suas vidas plenamente.
Só lembrando pra mim mesmo e para os interessados que a série "Comédias e Provérbios" conta com os títulos: A MULHER DO AVIADOR (1981), UM CASAMENTO PERFEITO (1982), PAULINE NA PRAIA, NOITES DE LUA CHEIA, O RAIO VERDE e O AMIGO DE MINHA AMIGA (1987). Espero encontrar os outros três títulos que ainda não vi lá na locadora.
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