quarta-feira, junho 27, 2007
CAMINHO ÁSPERO (Tobacco Road)
Continuando a peregrinação pela obra do grande John Ford, falemos de CAMINHO ÁSPERO (1941), que a FOX lançou recentemente em DVD. Aliás, gostei da qualidade da imagem do DVD. Nesses filmes pré-participação na Segunda Guerra, Ford olhava com carinho para os pobres. A pobreza já havia sido mostrada enfaticamente em VINHAS DA IRA (1940) e seria novamente citada com força em COMO ERA VERDE O MEU VALE (1941). CAMINHO ÁSPERO (1941) é um filme menor que foi feito entre essas duas obras-primas. É um filme que mereceu apenas um parágrafo bem pequeno e apenas para ser menosprezado no livro "John Ford - A Filmografia Completa". O que é uma injustiça, já que CAMINHO ÁSPERO, dentre os filmes menores do diretor, é um dos mais interessantes.
Gostei do misto de comédia e de melodrama que deixa no ar, ao mesmo tempo, um gosto amargo e doce. Confesso que nem sempre embarco no humor de Ford. Às vezes ele me parece deslocado, como em SANGUE POR GLÓRIA (1952), por exemplo. Acho que a única vez que eu ri de verdade vendo um filme dele foi em DEPOIS DO VENDAVAL (1952) - unir John Wayne e Maureen O'Hara quase sempre funciona que é uma beleza. Em CAMINHO ÁSPERO, o humor é bem mais constante, mas é que fica difícil rir das desgraças da família Lester, um povo que não tem o que comer e às vezes precisam até roubar para conseguir alguma coisa.
O filme foi baseado num romance de Erskine Caldwell, escrito em 1933, época em que os EUA ainda sofriam com a Grande Depressão. O romance foi depois transformado numa peça para a Broadway, fazendo bastante sucesso e ficando oito anos em cartaz. Ouvi dizer que a cena de abertura da peça mostrava a família Lester espiando a filha se masturbando! Obviamente isso não aparece no filme. Não sei se a idéia de transformar a peça em filme partiu de Ford ou da Fox. Provavelmente foram os executivos da companhia que tomaram a iniciativa. Mas é imprecionante como mesmo em projetos de encomenda Ford imprime a sua marca. Tem uma hora no filme em que a matriaca dos Lester levanta a mão para a testa, com expressão triste, como no começo de RASTROS DE ÓDIO (1956). Outra coisa tipicamente fordiana é o céu. Poucos diretores filmam o horizonte de maneira tão bonita. E isso fica evidente em vários momentos de CAMINHO ÁSPERO.
Na trama, o velho Jeeter Lester (Charley Grapewin) e sua família caipira, que muito lembra a Família Buscapé, estão prestes a serem despejados do lugar onde moram e tentam, de alguma maneira, conseguir o dinheiro do aluguel. Quem aparece no filme em participação pequena como a filha de Jeeter é a bela Gene Tierney, que anos depois estrelaria o clássico LAURA (1944), de Otto Preminger. Uma das personagens mais legais e divertidas do filme é a irmã Bessie (Marjorie Rambeau), uma viúva que de vez em quando canta hinos religiosos e diz ouvir a voz de Deus. Muitos desses hinos fazem parte da trilha sonora do filme, dando ao filme um ar melancólico que sobrepõe facilmente os momentos engraçados. Mas vai ver foi por isso que eu gostei tanto assim do filme.
P.S.: Curiosamente, está chegando às lojas e locadoras brasileiras um box lançado pela Paramount, dedicado a John Wayne, contendo um filme com o título CAMINHOS ÁSPEROS, de John Farrow. Nenhum dos filmes do box é dirigido por Ford, mas em compensação tem dois títulos do William A. Wellman - GELEIRAS DO INFERNO e UM FIO DE ESPERANÇA.
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