quinta-feira, abril 19, 2007
MARIA ANTONIETA (Marie Antoinette)
A primeira notícia que se ouviu quando MARIA ANTONIETA (2006) teve sua primeira exibição no Festival de Cannes foi sobre a vaia que o filme - que estava participando da mostra competitiva - recebeu. Quando li essa notícia, imaginei que Sofia Coppola havia errado a mão nessa sua terceira incursão na direção de longa-metragem. Mas não. O problema é que Sofia cutucou onça com vara curta ao apresentar em plena França uma visão de Maria Antonieta como vítima. A rainha que foi durante muito tempo - e talvez ainda seja - odiada por toda a França por esbanjar dinheiro e deixar o povo passando fome, o que acabou por ocasionar o início da Revolução Francesa. Que nem foi algo que resolveu os problemas do país, já que o que veio em seguida foi uma chacina sem tamanho, com a morte de muitos aristocratas na guilhotina. Tudo em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Essa visão da aristocracia como vítima também pode ser vista com muito mais força em A INGLESA E O DUQUE, de Eric Rohmer.
Sofia Coppola, no entanto, fez um belíssimo e autoral trabalho, bastante coerente com seus filmes anteriores, que mostravam pessoas sentindo-se perdidas e incompreendidas num ambiente frio. A figura de alguém com o rosto encostado no vidro de um carro olhando com ar de melancolia para a paisagem passando já se tornou marca registrada de Sofia. Na época de Maria Antonieta não havia carro, mas havia carruagem.
No filme, Kirsten Dunst é a jovem Maria Antonieta, uma adolescente que é praticamente vendida pela mãe, a rainha da Áustria, para os franceses. Ela se casaria com o delfim Luís XVI (Jason Schwartzman, primo de Sofia), um jovem com um certo ar afeminado e cujo esporte favorito era caçar veados na floresta. Tanto que foi um problema consumar o casamento, deixando preocupadas tanto a corte da França quanto da Áustria. Só depois de alguns anos foi que Luis XVI arrumou coragem para engravidar Maria Antonieta.
A história é contada de modo a nos identificarmos com Maria Antonieta, já que o filme é narrado quase que inteiramente pelo seu ponto de vista. O fato de haver uma trilha sonora rock é mais um motivo para que nos sintamos conectados ao filme de Sofia. Quanto ao elenco, Kirsten Dunst faz uma rainha adorável, Asia Argento está feia e com olheiras no papel da meretriz preferida de Luis XV, Jason Schwartzman combinou muito bem com o personagem por causa de sua aparência frágil e Marianne Faithfull, no papel de Maria Theresa, mãe de Maria Antonieta, aparece pouco, mas ver o seu nome nos créditos já causa uma boa impressão.
Como não conheço bem as canções de Gang of Four, New Order, Siouxsie & The Banshees e Air, acabei me emocionando mais quando ouvi "What Ever Happened?", dos Strokes, enquanto Maria Antonieta corre angustiada pelo palácio. Um entre tantos outros belos momentos do filme.
P.S.: Ontem foi um dia bem melhor. Recebi aqui em casa a visita de dois amigos (Jair e Valdir) e ainda recebi uma ligação surpresa do amigão Michel. Tudo isso, somado ao apoio da turma da Cinefelia e dos leitores do blog e à surpresa que foi ler uma manifestação de solidariedade do Marcelo Carrard em seu blog, tudo isso faz com que a gente se sinta mais forte pra seguir em frente. A todos vocês, meu muito obrigado.
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