terça-feira, abril 24, 2007
JULES E JIM - UMA MULHER PARA DOIS (Jules et Jim)
O interesse de François Truffaut em adaptar o livro de Henri-Pierre Roché surgiu na época em que ele filmava OS PIVETES (1957). Uma das coisas que mais lhe chamou a atenção no livro foi o fato de ser o primeiro romance escrito por um homem de setenta e seis anos. Truffaut acreditava que JULES E JIM (1962) seria o seu primeiro longa-metragem, mas por diversas razões, ele acabou fazendo primeiro OS INCOMPREENDIDOS (1959) e ATIRE NO PIANISTA (1960). Desse modo, devido à idade avançada, Roché não viveu o bastante para ver sua tão sonhada adaptação para o cinema de seu romance. Obviamente Truffaut ficou muito triste quando soube que o romancista havia morrido. Essa história é melhor contada pelo próprio Truffaut no livro "O Prazer dos Olhos".
Já em entrevista contida no livro "O Cinema Segundo François Truffaut", o cineasta conta que durante a produção de JULES E JIM, ele estava sofrendo de um medo terrível de morrer. Ele dirigia o seu carro amedrontado, com medo de bater. E ele vivia angustiado, com medo de que as pessoas não gostassem do filme, como havia acontecido com ATIRE NO PIANISTA, que é um filme mais amado pelos críticos do que pelo público. E Truffaut não ficava satisfeito com isso. Ele, como fã de Hitchcock, acreditava que era possível agradar aos dois "segmentos".
JULES E JIM é um filme baseado numa história real vivida pelo próprio Roché, mas tem toda uma cara dos anos 60, a década das transgressões. Lembrando que os anos 60 começaram bem mais cedo para os europeus do que para os americanos, que demoraram um pouco mais para aderir à contracultura no cinema. Aqui vemos a história de dois homens apaixonados pela mesma mulher. Até aí nada de mais. A diferença é que os dois homens se gostavam e se respeitavam como amigos e viveram na mesma casa, sujeitando-se à vontade dessa mulher. Para o papel de Catherine, a mulher, Truffaut escolheu Jeanne Moreau, que já era famosa na França na época, tendo trabalhado com diretores como Louis Malle, Edouard Molinaro, Roger Vadin e Michelangelo Antonioni. Já os dois atores que fazem os personagens-título eram, então, desconhecidos. Truffaut quis fazer assim para evitar que houvesse um duelo de astros e fazer com que o público torcesse por um dos dois. Desse modo, é possível simpatizar com ambos.
Truffaut chegou a dizer que fez JULES E JIM para sua mãe. Como OS INCOMPREENDIDOS foi para ela como uma punhalada nas costas, o filme da mulher que amava dois homens foi uma maneira de Truffaut dizer que a compreendia. Pena que a personagem de Jeanne Moreau seja tão irritante. Acho que o filme falhou nese sentido. Ele perdeu a oportunidade de mostrar uma mulher apaixonante e digna do amor daqueles dois homens. Em vez disso, eu fiquei mais comovido com a amizade dos dois homens, meio que escravos do amor daquela mulher maluca.