segunda-feira, abril 09, 2007
CAIXA DOIS
Legal poder ver no cinema dois bons filmes nacionais no intervalo de uma semana. Na semana passada, foi a vez de Ó PAÍ, Ó, de Monique Gardenberg. Nesse último final de semana, entrou em cartaz CAIXA DOIS (2007), de Bruno Barreto. Em comum, o fato de os dois filmes derivarem de bem-sucedidas peças teatrais. Já ouvi gente dizer que o problema do cinema brasileiro é a falta de bons roteiros. Não concordo com isso, mas ao que parece os produtores estão acreditando nessa teoria, já que o teatro tem servido de inspiração para alguns desses novos filmes. Sem falar que o custo de se tranpor uma peça teatral para o cinema é bem menor. Mas vale lembrar também que o resultado dessa "parceria" nem sempre é favorável, já que no ano passado tivemos o desprazer de ver o abominável IRMA VAP - O RETORNO, de Carla Camurati.
CAIXA DOIS é baseado numa peça de Juca de Oliveira que ficou seis anos em cartaz e levou mais de um milhão de espectadores ao teatro. Bruno Barreto modificou alguns pontos para a sua adaptação para o cinema. Como não assisti à peça, não sei se a essência original foi mantida - acredito que sim -, mas soube de algumas mudanças. Por exemplo, a secretária do banqueiro, na peça, era amante dele. No filme, o banqueiro fica só na vontade - e é difícil não ficar, diante da beleza de Giovanna Antonelli. Na peça, Fúlvio Stefanini é o bancário; no filme, ele é o banqueiro. E ele está muito bom no filme. A cena em que Daniel Dantas, o bancário demitido, vai até o seu escritório com uma arma de brinquedo é de dar boas gargalhadas. Aliás, são vários os momentos bem engraçados, mas, no meio de tanto riso, há uma cena especialmente tocante, que é quando Daniel Dantas diz que se sente o homem mais rico do mundo. Parte dessa cena aparece no tosco trailer, mas dentro do contexto do filme tem uma força muito maior.
Em CAIXA DOIS, Cássio Gabus Mendes é um diretor de um banco formado em Harvard que acabou se tornando o "pau mandado" do banqueiro Luiz Fernando (Stefanini). Os dois precisam efetuar uma transação ilegal, um depósito de um cheque de 50 milhões. Mas como esse cheque não pode passar pelas suas contas bancárias, eles precisam de um laranja, de alguém que possa emprestar a conta para o depósito. O laranja acaba sendo a secretária de Luiz Fernando (Antonelli), que muito sabiamente negocia com o patrão para receber uma boa quantia por esse "pequeno" favor. Acontece que o cheque é depositado na conta da pessoa errada, a esposa (Zezé Polessa) de um recém-demitido gerente do banco (Dantas). Agora o difícil vai ser convencer essa mulher, já revoltada com a demissão do marido, a devolver o dinheiro sujo pra eles.
Apesar de ser uma peça de mais de seis anos, CAIXA DOIS, em sua encarnação cinematográfica, parece bastante atual diante dos escândalos recentes envolvendo o governo do PT. Há, inclusive, uma brincadeira em torno do "eu não sei de nada, eu não vi nada", frase hoje atribuída com freqüência ao Lula, e que é dita pelo banqueiro corrupto. Apesar do banqueiro ser o corrupto-mor do filme, todo mundo quer ganhar a sua pontinha. Exceto o personagem de Daniel Dantas, que é apresentado como um bobão, um sujeito ingênuo que acredita na instituição privada em que trabalha(va), esforçando-se para dar o melhor de si, sem saber que um dia ele receberá um baita "pé na bunda" e engrossará o grande número de desempregados do país. Então, pra que serviu tanta dedicação? Com esse modelo econômico atual, não há muito espaço para homens honestos e trabalhadores. E os empresários e banqueiros ainda conseguem se safar dizendo que a culpa das demissões é do Bill Gates, é da Microsoft.
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