sexta-feira, abril 13, 2007
BLACKOUT - SENTIU A MINHA FALTA? (The Blackout)
BLACKOUT (1997) é o CIDADE DOS SONHOS do Abel Ferrara. Ou seria o CIDADE DOS SONHOS o BLACKOUT do Lynch? Prefiro a primeira frase, apesar de o filme do Ferrara ter sido feito antes. Se BLACKOUT não tem as mesmas referências ao catolicismo de OS CHEFÕES (1996), isso é compensado com outra característica forte do cinema do diretor, que são personagens afogados nas drogas. Dizem que o próprio Ferrara era adepto de drogas pesadas e talvez BLACKOUT seja desse fase mais hardcore da vida do cineasta.
Na trama, Matthew Modine é Matty, um ator de Hollywood viciado em álcool e drogas que reencontra Annie (Beatrice Dalle, que tem aqueles dentes separados naquela bocona que até hoje me incomodam). Ele propõe casamento a ela, mas ela lhe lembra que um tempo atrás ele lhe forçara a fazer um aborto, coisa que ele diz não recordar. Os dois brigam, ela desaparece, e ele aparece no clube de Mickey (Dennis Hopper, outro tradicional doidão) com uma outra garota chamada Annie, uma garçonete que ele conheceu há pouco. Mickey é um cineasta decadente que está fazendo um vídeo baseado num filme francês dos anos 50 chamado NANA. Passa-se um ano e meio e Matty está de vida nova. Largou as drogas e o álcool, casou-se com outra mulher (Claudia Schiffer) e está à procura de novas oportunidades na carreira, ainda que não tenha tido coragem de recomeçar de verdade. O problema é que ele vive tendo estranhos pesadelos que fazem com que ele suspeite de que cometeu um grave crime no passado.
O filme não tem roteiro de Nicholas St. John, seu habitual colaborador, autor do script do excepcional OS CHEFÕES. Em vez disso, Ferrara prefere um registro mais alucinatório de modo a captar o estado de espírito do protagonista. Há uma mudança de tom bem evidente na segunda parte do filme, quando Matty fica sóbrio. Me incomodou no filme o aparente amadorismo do personagem de Dennis Hopper, que parecia querer filmar qualquer coisa, não seguindo sequer uma lógica para o seu pretenso filme. BLACKOUT também tem uma aparência demasiado pobre para um filme que pretende retratar Hollywood. Botaram pouco dinheiro na mão do Ferrara, talvez com medo de que ele gastasse com drogas? No ano seguinte, ele faria um filme ainda mais louco: ENIGMA DO PODER (1998), talvez o mais complexo de todos os seus trabalhos. Eu, pelo menos, não entendi patavina.
Hoje está estreando nos cinemas de São Paulo MARIA (2005), um dos últimos filmes do diretor.
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