sexta-feira, fevereiro 02, 2007
COMO ERA VERDE O MEU VALE (How Green Was My Valley)
Essa semana está uma loucura aqui no trabalho. Por isso ando sem tempo até para responder decentemente os comentários do pessoal no blog. Mas com algum esforço e certa objetividade, vou tentando mantê-lo atualizado, já que o blog é uma das coisas que mais me dá prazer. Sem perder muito tempo, falemos então de COMO ERA VERDE O MEU VALE (1941), mais um ótimo exemplar do cinema do mestre John Ford. Esse filme também marca o final de uma fase na carreira do diretor, já que, logo após essa produção, Ford iria servir no exército, lutando na Segunda Guerra Mundial. Inclusive, durante esse período fora de Hollywood, Ford faria dois documentários sobre o conflito - A BATALHA DE MIDWAY (1942) e DECEMBER 7th (1943). Vale lembrar que na época de COMO ERA VERDE O MEU VALE, o prestígio de Ford estava lá em cima. Dois de seus filmes haviam ganhado o Oscar de direção - O DELATOR (1935) e AS VINHAS DA IRA (1940) -, fato que seria repetido com esse novo trabalho. Não é exagero dizer que naquela época, Ford era o cineasta mais importante dos Estados Unidos.
Um dos aspectos mais fascinantes do filme é o fato de ele conseguir passar, através da visão de uma criança, uma aura de nostalgia, apesar de todas as desgraças que acontecem ao longo da estória - acidentes de trabalho fatais, maus casamentos, pobreza, depressão, péssimas condições de trabalho. O começo do filme é até um pouco bizarro, mostrando a alegria de uma comunidade numa cidadezinha irlandesa cujos habitantes viviam do trabalho de mineração. Sempre depois de um suado dia de trabalho, esses mineradores saíam cantando pelas ruas, satisfeitos com as moedas que receberam por seus esforços, satisfeitos ao saber que poderiam dar conforto e alimento para suas famílias. Eles não se importavam com o fato de que trabalhar nas minas diminuíam sua expectativa de vida, além de estarem correndo risco de morrerem em algum possível desabamento. A maior desgraça que poderia acontecer para eles era perder o emprego. E alguns deles acabam perdendo, por causa das mudanças na administração das minas, o que força a maioria a aderir a uma greve.
O filme pode ter decepcionado um pouco os esquerdistas ao verem Ford fazendo um filme tendendo mais para o centro, diferente dos anteriores O DELATOR e AS VINHA DA IRA, que se parecem com filmes de esquerda. Entre as principais estórias tecidas pelo filme, a que mais me emocionou foi a do amor platônico entre o pastor da igreja (Walter Pidgeon) e a jovem Angharad Morgan, interpretada por Maureen O'Hara, atriz que trabalharia novamente com Ford em mais duas produções - RIO GRANDE (1950) e DEPOIS DO VENDAVAL (1952). Angharad estava prometida a outro homem, um homem rico, filho do dono da empresa de mineração, e em vez de lutar contra a vontade de seu pai, ela acaba aceitando o casamento arranjado, mesmo estando apaixonada por outro.
COMO ERA VERDE O MEU VALE inicialmente teria William Wyler como diretor, mas o produtor Darryl F. Zanuck acabou optando por Ford, que faria o filme por menos dinheiro e em menos tempo que o extravagante Wyler. Apesar de pegar o trabalho da mão de outro diretor, Ford imprime a sua marca pessoal, tendo inclusive muito mais com o que se identificar com a estória que Wyler. Assim como o garoto do filme, Ford também passou um ano deitado numa cama na companhia dos livros. No caso de Ford, isso aconteceu por causa de uma difteria. Sem falar que Ford é de origem irlandesa, aumentando bastante a identificação.
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