quarta-feira, janeiro 17, 2007

C.R.A.Z.Y. - LOUCOS DE AMOR (C.R.A.Z.Y.)



Desde sexta-feira está acontecendo em Fortaleza uma pequena mostra de filmes "alternativos". Como não tenho tempo para vê-los durante a semana, aproveitei as sessões de sábado e de domingo. No sábado foi exibido o canadense C.R.A.Z.Y. - LOUCOS DE AMOR (2005), de Jean-Marc Vallée, filme que me lembrou o ótimo HEDWIG - ROCK, AMOR E TRAIÇÃO, principalmente por tratar de temas como o homossexualismo e de ter o rock como pano de fundo. Diferente de HEDWIG, que trazia uma trilha sonora original, em C.R.A.Z.Y, os temas musicais são clássicos do rock que deram um trabalhão de se conseguirem por causa dos direitos autorais. Mas valeu a pena, já que as canções de Pink Floyd, Rolling Stones, David Bowie e The Cure são responsáveis por muito do prazer que o filme proporciona. O que dizer da arrepiante seqüência de "Sympathy for the Devil", dos Stones, cantada em plena igreja? Ou da cena da briga ao som de "10:15 Saturday Night", de The Cure?

Tanto as canções quanto a maneira carinhosa com que é mostrada a família de Zachary (o protagonista) contribuem para que valorizemos ainda mais cada momento da vida, já que toda época tem o seu encanto. E mais do que um filme sobre a descoberta do homossexualismo, C.R.A.Z.Y. é um filme sobre a relação de amor entre um pai e um filho. Há também o forte amor materno, que rende momentos de verter lágrimas, e o amor dos irmãos, mas é principalmente na relação pai e filho que o filme sustenta suas bases.

Na trama, Zachary, quarto filho de uma família de cinco irmãos, é um menino que sente que é diferente, mas que pelo fato de ter um pai que abomina o homossexualismo e sempre conta vantagem de sua masculinidade, acaba ficando bastante preocupado, a ponto de lutar contra seus desejos e de apelar para as orações a fim de não se tornar gay. Pelo menos até a adolescência, quando surge um certo desencanto com o Cristianismo e o rapaz resolve se declarar ateu. É nessa hora que assistimos ao já citado clipe do clássico satanista dos Stones. O aspecto religioso do filme, aliás, é tratado com muito cuidado e sutileza - o fato de Zachary ter poderes de cura sempre fica no terreno da dúvida.

Talvez a principal qualidade de C.R.A.Z.Y. esteja no agradável andamento narrativo que mostra a passagem dos anos com elegância. Aliás, a boa condução narrativa é a principal razão que nos faz gostar da maioria dos filmes, mesmo aqueles que a gente gosta sem saber bem por qual razão. Mas quando o filme mostra uma visão romântica e saudosista do passado, ele se torna mais fácil de agradar o espectador.

O roteiro é baseado nas memórias do co-roteirista François Boulay e o título se refere às iniciais dos nomes dos cinco irmãos - Christian, Raymond, Antoine, Zachary and Yvan -, bem como ao título de uma canção de Patsy Cline, adorada pelo patriarca da família. E por falar nas canções preferidas do pai da família, C.R.A.Z.Y. ainda tem o mérito de me fazer lamentar o fato de ter desistido do curso de francês e não poder entender (com mais propriedade) e cantar as canções de Charles Aznavour.

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