terça-feira, novembro 14, 2006
O GRANDE TRUQUE (The Prestige)
Christopher Nolan é um desses cineastas queridinhos dos críticos pop, que apreciam filmes que os façam se sentir inteligentes. Foi assim com AMNÉSIA (2000), o filme que revelou para o mundo o diretor; foi assim com O GRANDE TRUQUE (2006), ainda que de lá pra cá muita coisa tenha acontecido. Nolan passou de cineasta independente a diretor de primeiro escalão de Hollywood depois de ter assumido a proposta de revitalização da franquia do homem-morcego em BATMAN BEGINS (2005). Taí mais um filme que foi alardeado como grande espetáculo pela crítica pop, mas que não me enganou não. Aliás, enganar é uma palavra chave quando se fala de Nolan. E enganar está no coração de O GRANDE TRUQUE. Claro, não podia ser diferente, já que se trata de um filme de mágicos ilusionistas.
Tenho um amigo de infância que é fascinado por essas coisas. Aprendeu até vários truques e ganhou habilidade nas mãos para esconder cartas ou outros objetos. Interessante, mas não pra mim. Sou obcecado pela verdade e pela clareza. E não gosto de enganar ninguém, embora tenha dúvidas sobre gostar de ser enganado. Quem gosta de cinema, deve gostar de ser enganado, não é? Mas aí é outra história, já que nos permitimos ser enganados pela nossa própria retina. Na verdade, acho que estou me perdendo nesse assunto e não sei como sair. O fato é que me incomodo um pouco com esses filmes que se sustentam apenas no enredo e posam de inteligentes. Também incluiria nessa lista OS SUSPEITOS, de Bryan Singer.
O GRANDE TRUQUE retoma a parceria de Nolan com os atores Christian Bale e Michael Caine e com o diretor de fotografia Wally Pfister, todo saídos de BATMAN BEGINS, e todos voltarão a trabalhar juntos em THE DARK KNIGHT (2008). Na trama, Bale e Hugh Jackman são mágicos ilusionistas que se tornam rivais graças a uma tragédia que aconteceu com a namorada do personagem de Jackman. Ela foi vítima de um truque que deu errado e morreu afogada num tanque cheio d'água. Michael Caine é mentor dos dois e responsável pela criação de várias engrenagens. Scarlett Johansson é pouco aproveitada, no papel de assistente de Jackman.
Interessante como esse lugar e essa época, a Inglaterra vitoriana, inspira a produção de obras de ficção científica. Alan Moore, sabendo disso, soube aproveitar uma série de personagens literários dessa época nas suas graphic novels da Liga Extraordinária. Tem um interessante filme de ficção científica, chamado UM SÉCULO EM 43 SEGUNDOS, de Nicholas Meyer, que mistura Jack, o Estripador, com viagens no tempo. Inclusive, tenho impressão que se o filme de Nolan tivesse explorado mais o seu lado fantástico, eu teria gostado mais. Um dado interessante no filme - spoiler! - é o fato de o personagem de Bale ser, desde o início, o mais amoral e cínico dos dois e de repente se tornar o herói da história. Isso é muito estranho. Não é por estar na condição de vítima que ele iria conquistar a simpatia do público. O pessoal tem a memória fraca, mas nem tanto.
No fim das contas, o melhor filme de Nolan continua sendo INSÔNIA (2002). E continuo interessado em ver o primeiro filme dele, o inédito no Brasil FOLLOWING (1998), que tem uma premissa interessantíssima. Ah, e em O GRANDE TRUQUE, eu quase não reconheci o David Bowie, embora de vez em quando eu olhasse pra ele e pensasse: "esse velho é a cara do David Bowie..."