sexta-feira, novembro 10, 2006

O CÉU DE SUELY



O trio Karim Aïnouz-Sérgio Machado-Marcelo Gomes ainda vai dar muito o que falar. Filmes como MADAME SATÃ (2002), CIDADE BAIXA e CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS são um sopro de alegria para o cinema brasileiro. São ao mesmo tempo simples e sofisticados. O CÉU DE SUELY (2006), segundo longa-metragem dirigido por Karim Aïnouz, é uma pequena pérola que me encheu de orgulho e entusiasmo. Muito desse orgulho está no fato de o filme ter sido filmado no Ceará, mais exatamente na cidade de Iguatu, que não cheguei ainda a conhecer.

A cidade fica no sertão central e deve ser "quente feito a moléstia", como geralmente são as cidades dessa região do estado. Esse calor que incomoda a criança à noite, que chora até dormir, e que faz com que as amigas Hermila (Hermila Guedes) e Georgina (Georgina Castro) precisem se aliviar perto da geladeira é um dado importante do filme. Mas o diferencial de O CÉU DE SUELY em comparação a muitos outros que tentam registrar o Nordeste do Brasil é que esse é mais próximo do real. A linguagem usada por Aïnouz é quase documental.

O filme já me conquistou desde o início, quando vemos uma espécie de clipe de um momento de felicidade de Hermila, de quando ela estava ao lado de seu namorado, com quem teve um filho. A canção que toca ao fundo é uma versão brasileira de "Everything I own", do Bread, intitulada "Tudo que eu tenho". Depois, essa passagem romântica e cheia de filtros é substituída pelo estilo mais despojado e simples, pelo céu azul e pelo cenário humilde de Iguatu. Como se a realidade tivesse chegado para cortar o barato da protagonista. Hermila desce do ônibus segurando uma criança no braço. Ela retorna a sua cidade natal e espera o seu namorado voltar. O problema é que ele não volta. E ela precisa arranjar algum meio de sair daquele lugar. Lugar do qual ela não se sente pertencente.

O CÉU DE SUELY é bem diferente de MADAME SATÃ. É um filme contemplativo, próximo do cinema de Gus Van Sant - mas sem ser tão arrastado e angustiante - e dos irmãos Dardenne - a câmera em primeiro plano é usada com freqüência ao longo do filme. Poderia até incomodar esse recurso, mas a presença de cena de Hermila é tão intensa que eu nem pensei em reclamar. Seu belo sorriso até lembra um pouco o da Carolina Ferraz. Ela se mostra bem extrovertida e exalando sensualidade na maioria das cenas, mas soube se mostrar bastante constrangida na seqüência do "pagamento final". João Miguel, que havia se destacado em CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS, também está muito bem.

O CÉU DE SUELY estréia dia 17 em várias cidades. Preciso dizer que é imperdível?

Agradecimentos especiais à amiga Themis Aragão, que muito gentilmente me convidou para acompanhá-la na pré-estréia do filme, com direito à presença do diretor, da atriz principal e de outros membros do elenco. A sala 2 do Espaço Unibanco Dragão do Mar ficou lotada, com gente sentada no chão e em pé. Depois ainda teve um coquetel lá no MIS. Em seguida, houve uma programação inusitada: um show de rock num cinema pornô do centro da cidade, o Cine Betão. Infelizmente, a essa parte da noite eu não estive presente.

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