segunda-feira, novembro 20, 2006

CANTA MARIA



No mesmo dia que estréia o excepcional O CÉU DE SUELY, outro filme nacional entra em cartaz com menor visibilidade, ainda que dentro do circuitão. O problema é que não há nenhuma estratégia de marketing para divulgação do filme. Eu sequer sabia de sua existência até um dia anterior à estréia. Não vi trailers do filme. Até mesmo o título foi mudado meio que às pressas. Era pra se chamar "Os Desvalidos", título do romance de Francisco J.C. Dantas e foi mudado para CANTA MARIA (2006), título de uma das canções de Daniela Mercury, presente na trilha sonora. Acredito que o título definitivo é bem pouco atraente e deve até afastar o público, que pode associar o filme a algum musical religioso, quando na verdade trata de uma estória de amor ambientada na época do cangaço.

CANTA MARIA é o retorno de Francisco Ramalho Jr. ao posto de diretor depois de um hiato de quase 20 anos. Não conheços os seus filmes, exceto FILHOS E AMANTES (1981), que tenho vontade de rever por causa das presenças deslumbrantes de Lúcia Veríssimo e Denise Dumont. CANTA MARIA é um filme que se passa no conturbado nordeste brasileiro da década de 30, quando a região estava em guerra. De um lado, os cangaceiros chefiados por Lampião, de outro, os volantes, tropa da polícia especializada em atacar o cangaço. É um cenário que por si só já é muito rico e interessante. Também havia naquela época uma crença muito forte no Padre Cícero. Muitos acreditavam que ele fazia milagres.

Nesse cenário, acompanhamos a estória de Maria (Vanessa Giácomo), uma bela jovem cuja família foi assassinada pelos volantes. Sua família apoiava e recebia com freqüência Lampião (José Wilker) e por isso foi alvo de uma chacina executada pelo próprio governo. Quem encontra Maria é Felipe (Marco Ricca), um domador de cavalos que mora junto com o seu sobrinho (Edward Boggiss). Há uma atração mútua entre Maria e Felipe, apesar de ela ser, como o próprio tio falou, "aprumada" demais para ele. Felipe é um homem bruto e de pouca instrução. Os dois se casam e boa parte do que acontece de desgraça em seguida é culpa da estupidez dos próprios personagens, especialmente dos homens.

O filme é narrado com muita simplicidade e linearidade. Não há nenhuma tentativa de fazer algo diferente ou moderno. É um trabalho à moda antiga. A produção foi realizada na pequena cidade de Cabaceiras, no interior da Paraíba. O lugar teve suas estradas asfaltadas cobertas com areia e seus postes de iluminação foram arrancados para dar vida à cidade fictícia de Vale de Rio das Paridas (êta nomezinho feio, sô). Entre os destaques do filme está a performance do versátil Marco Ricca, José Wilker no papel de Lampião e, principalmente, a beleza e o brilho da jovem Vanessa Giácomo, que foi descoberta na novela CABOCLA (2004). Ela está também no novo filme de Ricardo Elias, OS 12 TRABALHOS (2006). O problema do filme é uma falta de força no ato final, quando deveria haver uma catarse. Em vez disso, acabei saindo do cinema meio que vazio. Ainda assim, é um filme que merece ser conferido.

P.S.: Dois avisos: o primeiro é que Heráclito já está de volta com um novo blog, o Viscera. O segundo é que tem coluna nova no CCR. Falo sobre o efeito do tempo, o envelhecer, essas coisas.

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