sábado, outubro 14, 2006

LEO McCAREY EM TRÊS FILMES



Leo McCarey é um dos cineastas entrevistados no livro "Afinal, Quem Faz os Filmes", de Peter Bogdanovich. E já fazia um tempão que eu estava devendo pra mim mesmo o fechamento da mini-peregrinação que eu pretendia fazer com seus poucos filmes disponíveis em vídeo no Brasil, a fim de ler com mais prazer a entrevista. Infelizmente, procurei na locadora O DIABO A QUATRO (1933) e não consegui encontrar. Mas eu juro que eu vi o DVD desse filme por lá. Depois de ter desistido da procura, resolvi fechar de vez esse capítulo dedicado a Leo McCarey, alugando OS SINOS DE SANTA MARIA (1945) e TARDE DEMAIS PARA ESQUECER (1957), sendo que esse último eu já tinha visto em VHS, na época da redescoberta do filme, graças a SINTONIA DE AMOR, de Nora Ephron. Coincidentemente, justamente no dia em que eu aluguei esses dois filmes de McCarey, encontrei no balaio de 9,90 do Extra o clássico DUAS VIDAS (1939), só que com um título diferente: POEMA DE AMOR. Se eu não tivesse olhado a contracapa, não teria notado o nome do diretor e o título original. Fiquei super-feliz.

DUAS VIDAS / POEMA DE AMOR (Love Affair)

Leo McCarey preferia esse original à refilmagem mais famosa e de maior sucesso, o TARDE DEMAIS PARA ESQUECER. Pesando os dois filmes na balança, por pouco eu gosto mais do remake, mas esse original é uma beleza também. É mais enxuto, com menos canções, mais próximo da comédia. A década de 30, talvez para fugir da tristeza da Grande Depressão, se caracterizou principalmente por suas comédias malucas. O próprio McCarey já havia realizado uma dessa comédias: o ótimo CUPIDO É MOLEQUE TEIMOSO (1937). Outro ponto a favor de LOVE AFFAIR: eu simpatizei mais com a Irene Dunne do que com a Deborah Kerr, apesar dessa última ser bem mais elegante. Pra quem não conhece a estória: um homem (Charles Boyer) e uma mulher (Irene Dunne), ambos solteiros mas comprometidos, conhecem-se num navio. Como ambos estão sós e há uma atração mútua, eles passam muito tempo juntos. Ele é um homem famoso, uma celebridade. Quando o navio está chegando em casa, ela sugere que os dois se encontrem novamente em seis meses, no topo do Empire State. É o tempo de ambos resolverem suas vidas e se casarem. Acontece que o destino não foi muito gentil com o casal de apaixonados. No dia do encontro, ela é atropelada e fica paralítica. Apesar do enredo ser bem pesado, esse filme tem uma leveza impressionante, coisa que só os americanos parecem conseguir fazer.

OS SINOS DE SANTA MARIA (The Bells of St. Mary's)

Engraçado que o filme que eu imaginava ser o mais fraco dos três de Leo McCarey foi justamente o que eu mais gostei, o que mais me emocionou. OS SINOS DE SANTA MARIA é uma espécie de continuação do premiado O BOM PASTOR (1944). Bing Crosby retoma o papel do Padre Chuck O'Malley do filme que lhe valeu um Oscar. Interessante que o filme foi feito de encomenda pois a Igreja e as pessoas gostaram muito do tratamento que McCarey deu aos padres no primeiro filme e queria que ele fizesse o mesmo com as freiras. Assim, o filme apresenta a mais linda freira que eu já vi: Ingrid Bergman, no papel de Madre Superiora e líder do grupo que coordena uma escola para crianças. O prédio da escola está em ruínas e o dono de um grande edifício ao lado quer comprar o terreno da escola para fazer um estacionamento. Em vez disso, as freiras rezam para que o dono ranzinza doe o prédio dele para que, no lugar, seja construída uma nova escola. O filme flui com uma delicadeza impressionante. E o interessante é que o padre e as freiras não são mostrados de modo muito religioso, mas são tratados com respeito, ainda que o padre tenha cara de malandro e a Ingrid Bergman, vestida de freira, inspire as mais variadas fantasias do espectador. Não pude conter as lágrimas no final. Esse filme, junto com O BOM PASTOR, são os filmes de maior sucesso de McCarey e o que mais lhe deu prazer de filmar. Uma pequena obra-prima.

TARDE DEMAIS PARA ESQUECER (An Affair to Remember)

A intenção de McCarey quando fez esse remake foi apresentar para as novas audiências uma das mais belas estórias de amor que o cinema já produziu. O filme se pretende uma versão melhorada do original. TARDE DEMAIS PARA ESQUECER (foto) começa muito bem, com a bela canção-tema e o título do filme em cor de rosa, com a fotografia em cinemascope e technicolor. Pra mim, a grande vantagem desse filme em relação ao original é a presença de Cary Grant, que eu considero um dos melhores atores de sua época. Já McCarey, na entrevista, disse que gostava mais da performance de Charles Boyer no filme original. A desvantagem de ver esse filme imediatamente após o outro é que perde-se o fator surpresa, já que poucas coisas foram realmente mudadas. Por outro lado, podemos ver pequenos detalhes adicionados com inteligência pelo diretor. A cena em que os dois vão até a casa da avó do protagonista ganhou e muito na versão em cores, já que o lugar, cheio de flores, fica com uma aura mágica ainda maior. O que eu não gostei foi de uma cena de música do final que poderia ser retirada tranqüilamente. No mais, é um belo filme e que merece a fama que recebeu. Depois, ainda fizeram um outro remake nos anos 90, LOVE AFFAIR - SEGREDOS DO CORAÇÃO, com Warren Beatty e Annette Bening nos papéis principais. Dizem que é bem fraca essa nova versão.

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