terça-feira, outubro 17, 2006
FREE ZONE
O plano-seqüência que abre FREE ZONE (2005), além de muito bonito, funciona também como uma forma de acalmar os ânimos da platéia, que normalmente está acostumada a uma narrativa mais apressada. Assim, somos obrigados a assistir a quase dez minutos de câmera parada no rosto de Natalie Portman. Levando em consideração a dona do rosto, é uma obrigação das mais prazerosas. Natalie, além de linda, é inteligente (fala várias línguas) e tem um carisma impressionante. Ainda que o filme não fosse bom, não seria nada mal passar 90 minutos só olhando pra ela. E sabendo do tesouro que estava nas mãos, a câmera de Amos Gitaï "namora" a protagonista. O close é tão próximo de seu rosto que é quase como se pudéssemos beijá-la. Essa primeira seqüência do filme mostra Miss Portman chorando copiosamente. Não sabemos o motivo e essa pergunta obviamente passa por nossa cabeça, ao mesmo tempo que prestamos atenção na canção que toca no carro, que tem uma estrutura parecida com a popular "Velha a Fiar" e que retrata o clima de opressão vivido em Israel.
Na trama, Natalie Portman é Rebecca, uma americana filha de pai judeu, que está em Israel, e embarca numa viagem até uma "free zone", uma zona de livre comércio onde pessoas de vários países (Israel, Jordânia, Egito, Iraque etc) podem fazer transações comerciais sem se importar com nacionalismos. A jovem está na companhia de Hanna, uma judia alemã que mora em Israel. Elas vão até essa "free zone" na Jordânia a negócios. Para Hanna, a viagem é apenas de negócios, mas para Rebecca, ela significa a porta para um novo mundo, um mundo até então desconhecido e que serve também como fuga para a jovem, que está sofrendo o trauma de uma separação.
Amos Gitaï sai um pouco da narração tradicional quando utiliza camadas de imagens no lugar dos manjados flashbacks para mostrar o que aconteceu com as personagens antes daquele momento retratado no filme. Não tenho nada a falar sobre a visão política e ideológica que o filme passa. Tanto por não ter muito background no assunto, quanto pelo fato de que tudo que eu li a respeito do filme, sejam as críticas sejam as entrevistas, soaram um pouco vagas pra mim. Do ponto de vista narrativo, o filme perde um pouco da força momentos depois que as três mulheres (a americana, a judia e a palestina) vão até o lugar onde mora o tal "americano" que deve dinheiro ao marido de Hanna. A cena em que Natalie conversa com um senhor é um balde de água fria e prejudica todo o andamento, trazendo irregularidade para o filme, que até então estava indo muito bem. As cenas de dentro do carro lembram DEZ, de Abbas Kiarostami.
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