terça-feira, outubro 03, 2006
ELEIÇÃO - O SUBMUNDO DO PODER (Hak Se Hui / Election)
Quando assisti BREAKING NEWS - UMA CIDADE EM ALERTA (2004), fiquei imaginando o impacto que deveria ser ver no cinema aquele plano-seqüência inicial. Foi o primeiro filme de Johnny To que eu vi e deu pra notar nele um exemplo de mais um cineasta virtuosista vindo do oriente. Aos poucos, To está ganhando fama, com participações em importantes festivais de cinema. Não demorou para que um de seus filmes recentes fosse lançado em circuito comercial. O que decepciona um pouco aqui é que ELEIÇÃO - O SUBMUNDO DO PODER (2005) pouco conta com o virtuosismo do diretor. Há muita câmera parada, muita conversa em lugares escuros e muita (da minha parte) confusão em entender trama tão intrincada. Suspeito que eu sou demasiado ingênuo para entender filmes políticos e que trazem personagens que não demonstram de fato de que lado estão.
Na trama, vemos a organização criminosa Wo Shing promovendo uma eleição para o novo líder do grupo. Há dois candidatos que disputam a eleição: o calmo e sereno Lok (Simon Yam, que esteve no citado BREAKING NEWS e em VINGANÇA, thriller estrelado pelo Van Damme) e o semi-psicopata e agressivo Big D (Tony Leung Ka Fai, de DUMPLINGS). De cara, é mais fácil simpatizar com Lok, já que Big D parece uma versão ainda mais insana de um gângster saído de um filme de Martin Scorsese. Pra se ter uma idéia da perversidade do sujeito, para conseguir o bastão de líder, ele coloca dois capangas de Lok dentro de caixas de madeira e faz com que eles rolem montanha abaixo. Não apenas uma única vez, mais seguidas vezes, até que os corpos desses homens fiquem totalmente arrebentados e feridos. Um detalhe interessante é que, em ELEIÇÃO, os criminosos não usam armas de fogo, usam facas, paus, pedras ou os próprios punhos. A própria polícia, em vez de prender os bandidos, o faz, mas com a intenção de fazer com que os candidatos inimigos cheguem a um acordo para que, assim, haja menos violência nas ruas.
Vendo esse filme, em alguns momentos eu me senti como um menino entendiado que fica feliz quando aparece uma briga na rua. A violência que expulsou algumas pessoas da sala de projeção daquela manhã de sábado me ajuda a acordar, intoxica o meu corpo, me faz sentir vivo. Como To fez um filme com muita conversa, isso funcionou como estratégia para facilitar o ingresso nos festivais internacionais, que por mais diversificados que sejam ainda são bem preconceituosos com filmes de gênero. Porém, os melhores momentos do filme surgem nas cenas de ação, especialmente a última, que me pegou de surpresa e fechou com chave de ouro o filme.
O que me deixou de orelha em pé com o filme foi a ambigüidade. A música no pianinho que toca no momento em que os dois inimigos se unem, o que é aquilo? É como se estivéssemos vendo um melodrama interpretado por sujeitos íntegros e bonzinhos que fazem as pazes e não assassinos de sangue frio que lidam com drogas pesadas. A cena que mostra o código de honra da organização, que tem raízes na Dinastia Ming, também me confundiu. É como se toda aquela violência fosse justificada e a organização fosse quase sagrada. Tem senso de humor que eu custo a entender.
P.S.: Para a coluna dessa quinzena no CCR, graças à falta de idéias, tomei a liberdade de usar de picaretagem, reciclando as listas de melhores das décadas. Pra quem é leitor do blog, não tem nada de novidade, mas ainda assim, quem quiser conferir será bem vindo.
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