domingo, agosto 06, 2006
ZUZU ANGEL
Quando vi o trailer de ZUZU ANGEL (2006), imaginei se tratar de um novo OLGA. Não no quesito sucesso de bilheteria, mas no aspecto artístico. Mas pensei comigo: não pode ser, o diretor é Sérgio Rezende, cineasta que eu aprendi a gostar desde MAUÁ - O IMPERADOR E O REI (1999) e cujo último trabalho, ONDE ANDA VOCÊ (2004), malhado pela crítica e pelo público, me encantou de verdade. No fim das contas, eu fui um dos poucos que gostaram do filme. E parece que a história se repete, ainda que em menor grau, com ZUZU ANGEL, que eu considero o melhor filme de Rezende, mas que está sendo recebido com frieza pela crítica.
ZUZU ANGEL já me conquistou desde os créditos iniciais, ao som de "Dê um rolê", clássico da mpb na voz de Gal Costa, em versão rock, cantada por Roberta Sá. Depois disso, na primeira cena, vemos Patrícia Pillar, a Zuzu Angel, falando em tom solene e pouco natural, olhando para a câmera: "Estou com medo de morrer." A princípio, achei muito estranho o modo como Patrícia fez essa declaração. Depois, vi que se tratava de uma maneira bastante original de mostrar um personagem escrevendo uma carta. A carta que Zuzu escreveu para Chico Buarque. Essa fala de Zuzu é também coerente com o jeitão meio film noir, meio filme de espionagem, que Rezende utiliza. A ambientação, a roupa, a música, tudo remete aos filmes das décadas de 40 e 50. Só depois é que o melodrama vai se tornar o gênero dominante.
A utilização de uma estrutura fragmentada, com flashbacks entrecortando a linha principal da narrativa, também foi um recurso acertado. As lembranças de Zuzu do filho querido e desaparecido acentuam o amor materno, enquanto que a linha principal mostra a coragem dessa mulher que enfrentou uma ditadura violenta e repressora. Entre os momentos mais emocionantes, destaco a cena de Zuzu botando a boca no trombone no avião; a cena de Elke Maravilha (a própria) cantando uma canção grega num bar; e a cena do desfile em tom de luto. Esses e outros momentos nos mostram o quão sensacional foi a vida de Zuzu. Admira-me o fato de que ninguém havia feito um filme sobre ela antes.
Não tenho do que reclamar do elenco de apoio. O filme se concentra mais nos personagens de Patrícia Pillar e Daniel de Oliveira, dando pouco espaço para Luana Piovani, Regiane Alves, Leandra Leal e Alexandre Borges. Mas isso não chega a ser um problema. Pelo contrário: se o filme se desviasse um pouco da linha principal, aí sim ganharia irregularidade, falta de ritmo. Do jeito que ficou, ZUZU ANGEL é o filme mais enxuto, ágil e maduro do diretor. Com esse filme, Sérgio Rezende se firma como o grande cineasta de filmes históricos do Brasil. Guardadas as devidas proporções, Rezende seria o Fernando Moraes do cinema. Espero que uma declaração recente de que ele estaria cansado da vida real não o afaste definitivamente dos filmes históricos. Seria uma perda para o nosso cinema.
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