sexta-feira, agosto 11, 2006

ENTREVISTA: EDUARDO AGUILAR



Quando passei por São Paulo, ganhei de presente do amigo Eduardo Aguilar uma cópia em DVD de quatro de seus mais recentes curtas. Venho acompanhando com atenção sua filmografia desde PUTA SOLIDÃO (2001). A princípio, iria apenas escrever minhas impressões sobre os filmes, mas deu vontade de fazer umas perguntas a ele. Daí me surgiu a idéia de fazer uma entrevista, aproveitando-me da amizade que tenho com ele e de sua boa vontade. Além do mais, quando postei no blog uma entrevista de Davi de Oliveira Pinheiro, por ocasião do curta O COMBATE, comecei a criar gosto pela coisa. Com Aguilar, a idéia se tornou um pouco mais ambiciosa, já que as perguntas resultaram bem maiores do que eu imaginava e a entrevista ficou bem grandinha. Mas eu gostei disso. Senti-me como um Peter Bogdanovich. E fiquei feliz quando o próprio Aguilar me falou que a entrevista também foi muito prazerosa para ele. Vamos a ela, então.

Como surgiu a idéia de fazer LOURDES, UM CONTO GÓTICO DE TERROR (2004)?

Tanto o curta LOURDES, UM CONTO GÓTICO DE TERROR como os demais curtas do "Projeto: SONS" (O QUADRO (2005), JOGOS (2005) e CLAUSTRO (2005)) fazem parte de um projeto de oficina de "interpretação para cinema". Na verdade, fazia algum tempo que eu ministrava esse tipo de oficina, mas achava que faltava alguma coisa para tornar a empreitada mais ousada e estimulante, somado a isso, havia o fato de que o contato com os atores era extremamente prazeroso, mais até do que com os técnicos/artistas de uma equipe de cinema. Então, surgiu a idéia meio inspirada nos processos de trabalho de Mike Leigh e Ken Loach de partilhar o processo de criação dos personagens, e aí resolvi ir um pouco além e partilhar a criação da dramaturgia como um todo.

É importante dizer que a primeira iniciativa nesse caminho ocorreu em 2003 e foi frustrante, pois o projeto acabou interrompido por problemas de toda ordem, entre eles, alguns conflitos envolvendo a distribuição dos papeis, o que me mostrou que nem tudo eram flores em se tratando de atores e que era preciso pisar em ovos por conta da questão das vaidades. Além disso, houve um problema maior envolvendo a questão da verba prevista para a oficina, verba que foi cortada em meio ao processo, daí a opção em abortar a proposta. Mas o fato concreto é que, apesar dos reveses, eu permaneci com a crença de que era possível aparar as arestas e levar a proposta adiante, inclusive afrouxando parte do controle que busquei ter nessa primeira experiência.

É nesse contexto que em 2004 apresento essa proposta à "Oficina da Palavra". Esse local era muito mais ligado à literatura, por razões óbvias, já que ocupa a casa que foi de Mário de Andrade. Resolvi associar minha crença de que o cinema é muito mais silêncio do que palavra, e formulei o projeto com esse paradoxo, no sentido de explorar o silêncio na casa da palavra. Começamos dessa maneira, primeiro com exercícios de improvisação absolutamente livres, para que eu pudesse conhecer melhor as características dos atores, em seguida, comecei a direcionar para alguns temas, mas como a coisa não fluía e as cenas acabavam verborrágicas, ou na melhor das hipóteses, desinteressantes, propus à minha assistente, a Lina Agifu, atriz de PUTA SOLIDÃO e GAROTAS DO ABC, uma brincadeira meio 'sacana': os alunos deveriam escolher entre duas salas, e então utilizariam o tema que aparecesse escrito na lousa de cada sala. Mas como o grupo sempre fugia das questões envolvendo sexo, eu propositadamente associei dois temas em cada sala, sendo que um deles era sempre 'sexo'. Logo, escolhesse a sala que fosse, o grupo teria que trabalhar esse tema ligado a outro. No caso específico de LOURDES, UM CONTO GÓTICO DE TERROR, a dupla de temas era "sexo e religião". Foi assim que o grupo de quatro alunos, formado por três mulheres e um rapaz, surgiu com a história dessas freiras que ficavam incomodadas com a chegada de um padre. Havia uma espécie de coreografia sonora que determinava o ritmo da cena e como a apresentação da improvisação era em uma sala, tal qual um palco de teatro, você podia assistir o que ocorria nos vários ambientes ao mesmo tempo. A cena era bem interessante, e de cara, eu soube que geraria um dos curtas, mas faltava algo. O primeiro ajuste foi sugerido pela minha ex-mulher que viu a gravação do exercício, no qual o padre é quem tomava a iniciativa de seduzir a madre, e ela muito acertadamente disse que não cabia, que aquelas mulheres é que tinham o controle da situação e que a Madre é quem devia tomar a iniciativa, acho que esse elemento foi definitivo na construção de todo o resto. Eu diria que outro dado importante foi saldar minha antiga dívida com "Nossa Senhora de Lourdes", pois sou devoto da mesma, e há muito tempo tinha um curta que queria dedicar à ela, e quando um amigo ateu ficou horrorizado com a idéia de que eu terminaria o tal curta com essa dedicatória, é que tive mais certeza de que era necessário levar isso adiante. Porém o tal curta não aconteceu, e pensei comigo que a hora propícia era aquela, não haveria melhor oportunidade para homenagear "Nossa Senhora de Lourdes", e como na cena desenvolvida pelos atores, eles se relacionavam com a imagem de uma cruz, achei que devia substituir isso pela imagem de "Nossa Senhora de Lourdes". Daí resolvi pesquisar sobre as aparições dela e sobre conventos de freiras carmelitas para enfatizar o aspecto de isolamento (as carmelitas praticamente não têm contato com o mundo externo) e me deparei com dois elementos cruciais, uma das primeiras ordens das carmelitas é a das "carmelitas descalças", quem viu o curta já pode fazer a associação desse elemento, e outro dado fundamental é um momento em que Bernadette (uma das jovens que presenciou a aparição) se arrasta aos pés da imagem de "Nossa Senhora de Lourdes".

Bom, tudo isso somado, me parecia que finalmente eu tinha que assumir de forma mais concreta minha paixão pelo cinema de horror, ela sempre existiu, mas por conta do enorme preconceito que o gênero enfrenta tanto entre a crítica como no próprio meio cinematográfico, eu mantinha essa paixão de forma meio envergonhada até descobrir a lista de discussão canibal_holocausto. A esses elementos todos envolvendo a criação de LOURDES, acrescente-se que eu havia descoberto o cinema de Pupi Avati, e estava encantado com a incrível atmosfera que ele consegue criar a partir de pouquíssimos elementos, e tanto a abertura do curta, como o seu 'quase final', remetem a filmes de Avati. A abertura é uma citação explícita de A CASA DAS JANELAS QUE DAVAM RISADAS e o 'quase final' remete a ZEDER um filme sobre zumbis que praticamente não os mostra. No entanto, a principal referência desse meu trabalho está em outro 'quase plano final' que acontece na capela com uma das noviças se transfigurando em LOURDES. Essa referência conduziu a essência do conceito do projeto, que era misturar sexo e religião, o que ao meu ver, só poderia resultar em ascese, e lógico, não apenas a ascese religiosa, o alcance da santidade, mas essa possibilidade contida no gozo, no orgasmo sexual/religioso. E foi essa plenitude tão almejada pelos personagens do cinema de Khouri que em certa medida, manteve a alma desse trabalho.

Por fim, é fundamental dizer, que com o projeto em curso, roteiro estruturado a partir da improvisação e dos seguidos ensaios com constantes contribuições dos atores, finalmente pude assistir DEMONIA, de Lucio Fulci, um filme decepcionante em se tratando do mestre italiano, mas havia uma intenção que se sobrepunha ao resultado, ela já estava presente na própria imagem da capa do DVD, com uma madre tendo o símbolo da dúvida fixado em sua testa, e como o curta fala de mulheres que se rebelam contra uma condição pré-estabelecida, nada melhor do que identificá-las no momento de sua 'transformação' usando o símbolo da dúvida.



Uma coisa que me deixou um pouco grilado em LOURDES foi justamente a ascese, essa mistura de orgasmo do mundo físico com o nirvana do hinduísmo, que eu, até então, não conhecia. A propósito, essa é uma definição razoável de ascese? Mas a verdadeira pergunta é: você não acha que pra um filme dedicado a uma santa, LOURDES não ficou muito subversivo? A Igreja não deve ver com bons olhos freiras se masturbando ou uma madre superiora beijando a boca de um padre. Pra completar, entre as referências que você não mencionou, TRISTANA também está incluído, não?

Aqui temos uma questão bem interessante. Bem, estou entendendo que a primeira parte da pergunta é muito mais uma curiosidade sua do que parte efetiva da entrevista, mas sim, concordo com a sua compreensão de ascese, mas veja bem, ascese no sentido estrito da palavra está ligada ao aspecto religioso apenas, sem qualquer conotação sexual, essa conotação é fruto do entroncamento dos filmes do Khouri com o meu olhar sobre o tema.

Agora vamos à segunda parte da pergunta: primeiro, para evitar mal-entendidos, o nome "Lourdes" no curta está associado à aparição de "Nossa Senhora" na cidade de Lourdes e portanto, não se trata de uma santa, e, como o filme é assumidamente católico, isso faz alguma diferença, pois a figura de Nossa Senhora é muito mais forte do que a de uma santa.

E sim, tenho a convicção de que isso torna o filme subversivo, o que aliás, vejo com muito bons olhos e plena satisfação que seja compreendido dessa forma. Mais do que um filme católico, e eu o vejo dessa forma, acima de tudo é um filme sobre religiosidade e não sobre religião, sem no entanto abdicar desse viés, se é que é possível admitir essa dualidade. Vou aproveitar pra contar uma história engraçada sobre os bastidores da filmagem que acho que ajuda a entender (ou não) a minha 'cabeça' em relação ao tema.

Estávamos quase pra terminar as gravações de LOURDES, todos muito cansados, pois os outros três curtas já haviam sido realizados e a 'pilha' estava bem arriada, já que nesse tipo de trabalho semi-independente, o esforço de cada um é no mínimo dobrado em relação aos demais projetos similares. Faltavam fazer os planos da imagem de "Nossa Senhora" que todos insistentemente chamavam de santa, com o que eu já não me importava mais em corrigir. Pois bem, enquanto os detalhes eram afinados, alguns componentes masculinos da equipe fizeram gestos libidinosos em relação a imagem de gesso e eu prontamente fiquei irritado. Difícil ser preciso em palavras sobre essa sensação de enorme incômodo que a brincadeira de parte da equipe me causou. Seguramente está associado à minha forte formação católica e o que a imagem representa pra mim, por outra, é difícil convencer a todos que antes da subversão estava o enorme respeito que tenho pela Virgem Maria, acho que ainda sem conseguir me explicar por completo, eu diria que a minha referência nesse tipo de paradoxo, é talvez a mais bela música do Raul Seixas, de quem sou fã incondicional, a "Ave Maria da Rua". Enfim, não cabe reproduzir a letra por aqui, mas é coisa de canceriano e o Raul era um desses.

E sim, TRISTANA é uma referência digamos que das mais sutis do filme. Certamente haverá quem diga que a sutileza foi exagerada e a citação não se faz clara, o que a princípio seria uma falha na pretensão, mas prefiro crer que assim como já descobri muitas coisas em um filme quando o revi, esse também pode ser o caso dessa citação, e como sou um admirador de Sidney Lumet, que por sua vez preza muito a sutiliza, prefiro correr o risco de que uma citação não seja assimilada por todos do que escancará-la na tela.



Sei que O QUADRO é muito pessoal pra você, descrevendo um pouco da dor sentida num processo de separação. É um dos que eu mais gostei dos seus curtas, talvez o meu favorito ao lado de CLAUSTRO. Gostei muito das lembranças boas do passado invadindo o presente amargo, como na cena do vinho. E a música triste que toca no final enquanto rolam os créditos é de arrepiar. Você poderia falar um pouco sobre esse curta? Outra pergunta: até que ponto a dedicatória no final a Luchino Visconti e a Alain Resnais tem a ver com a influência da estética desses dois autores no seu trabalho?

Começando pelo fim. Em relação a Resnais, a influência é mais conceitual do que estética, ainda que resvale nesse caminho também, pois o que me interessa em Resnais é a questão da memória e de como trabalhar/embaralhar isso do ponto vista cinematográfico, e considerando ainda que Resnais utilizou de forma muito preponderante os elementos da continuidade, em especial o gestual, para fazer os elos de ligação entre a memória, o tempo real e qualquer outro tempo (irreal, inclusive), e tendo em mente o fato de que eu comecei em cinema como continuista, me pareceu natural que esse projeto fosse dedicado à ele, mas a gênese de criação desse curta está no filme de Visconti AS VAGAS ESTRELAS DA URSA MAIOR, pois quando vi a cena de improvisação proposta pelos alunos e que envolvia um determinado tipo de relação, logo pensei no filme de Visconti. Vale dizer, o Renato Doho me fez uma cópia para que eu pudesse rever o filme, mas como a cópia demorou a chegar, outras coisas foram ocorrendo no caminho.

Talvez esse tenha sido, de todos os meus trabalhos, o que mais sofreu a intervenção em todas as suas etapas por conta dos momentos que eu vivenciava. É interessante ressaltar que meu irmão, a quem dedico o curta na abertura, não enquanto inspiração, mas como dedicatória de fato, sempre me falou muito desse filme do Visconti. Engraçado que, antes do roteiro virar curta, houve uma espécie de versão para teatro apresentada em palco, e, ao término, meu irmão disse: "É Visconti!!!", o tipo de comentário que vale toda uma vida. No entanto, ao escolher a locação, talvez intencionalmente, escolhi uma casa que pertence a ele, tendo sido inclusive, o local aonde ele morou com sua mulher, e na qual ela falecerá um ano antes. Quando entramos na casa para as gravações, eu sabia que não era mais a história inspirada no filme do Visconti (quem conhece, sabe do que estou falando), por isso alterei e subtraí algumas falas que indicavam aquele caminho anterior e percebi que estava fazendo um curta que traduzia a sensação da perda. Mas ainda não era de fato, a minha perda, e sim a que meu irmão havia sofrido, por isso há um determinado letreiro que antecede a dedicatória a Resnais e Visconti.

Mas aconteceu que na edição, a separação que estava se consumando era a minha, e daí o referencial passou a ser outro, ainda assim, acho que consegui equilibrar a melancolia da saudade, somada à amargura da perda, mas no plano final, na associação com a música, acredito que se imponha um clima de amargura, pois este era o meu estado de espírito. É curioso por que sempre disse à minha "ex" que o meu maior medo era que tudo virasse lembranças do passado, aquela estranha sensação de que é tudo tão distante e difícil de alcançar e que ao mesmo tempo, é preciso prosseguir.

Engraçado que nesse exato momento me vem um dos filmes que mais gosto do Spielberg, que acabei de adquirir em dvd, o ALÉM DA ETERNIDADE. Acho que poucas vezes no cinema fiquei tão entristecido quanto ao ver aquela cena em que o personagem do Richard Dreyfuss tem que assimilar que jamais terá sua mulher novamente. Dreyfuss é um dos maiores atores do cinema!!!

Pra fechar, é interessante você falar da música, também penso assim e fico muito feliz com o seu comentário. A escolha foi feita sob a sugestão do autor, o nosso amigo André Z.P., pois eu havia lhe pedido algo para entristecer o público. De um modo geral, tenho percebido que as mulheres é que sacam melhor esse sentimento de melancolia etérea e aparentemente eterna.

O Z.P. que é o autor da música? Ele tá de parabéns. Sensacional! E o filme do Spielberg, eu lembro de não ter gostado muito quando vi na época, há mais de quinze anos. Preciso rever.

Pois é, o ZP não compôs a música especialmente para o curta. Na verdade eu conhecia uma outra, que se chama "Casa Vazia" e a considerava perfeita, mas ele já a havia cedido para um outro curta, daí me perguntou o tom, eu falei no lance da melancolia e da tristeza e ele me apareceu com aquela, que eu adorei, aliás, caso não saiba, aquela voz meio Tom Waitts é do próprio ZP.

E reveja o filme do Spielberg, é dos grandes filmes românticos da história do cinema, mas se ainda assim não embarcar, veja com atenção duas cenas antológicas do Dreyfuss. Na primeira, logo na abertura, quando ele percebe que seu avião vai explodir e aquilo significa o fim, e depois, quando incumbido de facilitar o envolvimento de sua mulher com outro homem, a fim de que ela o possa esquecer, ele a vê dançar a música que era deles envolvida pelo outro cara. Lembro de Dreyfuss encostado numa parede se contorcendo de ciúme.

Quanto tempo levou pra ficar pronto o curta?

É difícil precisar o tempo de realização de cada curta, na primeira fase, na qual criou-se a estrutura dramatúrgica no processo da oficina, levamos ao redor de três meses. As gravações demoraram três dias e uma noite, sendo um dia para cada curta, e a noite para o LOURDES - hehehe - . Aliás, vale dizer, o projeto tem dois conceitos centrais que o permeiam enquanto um conjunto de curtas que podem e devem ser vistos juntos, ainda que sobrevivam muito bem isoladamente. Os conceitos seriam "SONS" que atravessam interna e externamente as cenas, conduzindo-as, e também a procura por traduzir a passagem de um dia em quatro tempos: "Amanhecer" (JOGOS), "Meio-dia" (CLAUSTRO), "Entardecer" (O QUADRO) e "Anoitecer" (LOURDES, UM CONTO GÓTICO DE TERROR). Mas voltando ao eixo da sua questão, quando comecei o processo de edição, LOURDES foi favorecido, e em razão disso, terminou de ser finalizado em um mês após as gravações, por isso, seu ano de produção é de 2004, já os demais curtas foram todos terminar em julho de 2005. Foi um caminho tortuoso com muitos entraves na disponibilidade de tempo dos envolvidos, no caso, eu e os dois editores, cada qual cuidando de dois curtas.



CLAUSTRO é dedicado a Carlos Reichenbach. Posso estar enganado, mas senti que o filme se parece um pouco com o estilo de filmar do Carlão. Até pela presença da atriz, a Márcia de Oliveira, que esteve em dois longas do Carlão. Se é mesmo verdade essa semelhança, foi intencional essa busca pela estética reichenbachiana?

Em relação à dedicatória ao Carlão, ela está associada à construção da dramaturgia e à opção pelo melodrama, assim como à referência de algumas situações e personagens que remetem a ANJOS DO ARRABALDE. Inclusive, foi recomendado aos atores que assistissem o filme. Essencialmente, eu diria que uma cena magistral desse filme do Carlão, em que Betty Faria oferece o seio de forma maternal ao irmão Ricardo Blat somada a outra, em que a personagem de Vanessa Alves observa meio que à espreita uma situação de violência entre o casal Ênio Gonçalves e Irene Stefânia foram elementos condutores do curta. Aliás, eu diria que houve muita influência dos filmes UMA FRESTA NO TETO, de Andréa Bianchi e James Kelley, onde o personagem de Mark Lester tem uma atitude voyeurística condutora da narrativa, e principalmente UM DIA NA MORTE DE JOE EGG, um filme extraordinário de Peter Medak, no qual o processo de um casal que tem um filho com problemas mentais e motores leva o marido à exaustão, fazendo com que ele considere a hipótese de provocar a morte do filho. Aqui, vale dizer, CLAUSTRO se pretende uma resposta ao curta UM SOL ALARANJADO, do Eduardo Valente. Apesar de considerar um bom curta, me incomoda muito a ausência do processo de esgotamento de quem cuida de um doente, no caso a filha, pois eu vivi essas situações de perto, e as coisas não são como estão no curta do Valente. Ok, ok, antes que me atirem as pedras, eu sei que aquele é o olhar dele e que a ele interessava aquele viés, mas como senti falta do outro lado, procurei me empenhar bastante nesse curta para oferecer esse outro ponto de vista.

Enfim, não creio que haja semelhanças estéticas com o trabalho do Carlão e também não busquei esse caminho.

Vi que o roteiro original do filme foi realizado pelos três atores. De início, a idéia do filme não foi sua?

É como disse anteriormente, o processo todo desse projeto, foi de compartilhar a criação dramatúrgica, ou seja, eu não tinha nenhuma idéia fechada de como seriam os curtas, nenhum deles. O que aconteceu, é que obviamente enquanto coordenador da oficina, eu evidentemente direcionei o foco das ações, como por exemplo, associar a temática da sexualidade ou buscar o gênero de horror, ou ainda remeter ao que ocorrera na minha vida pessoal, no caso, a minha separação. Em suma, as idéias originalmente sempre foram dos atores, estimuladas por um tema proposto por mim e pela minha assistente Lina Agifu. Mas como na pergunta anterior você citou a atriz Márcia de Oliveira, é importante dizer que ela surgiu para participar do curso e surpreendeu a todos. Eu a questionei o porquê dela querer estar naquele projeto, já que ao meu ver ela é uma atriz completa e que já tem o seu espaço no mercado, mas ela queria se exercitar e não seria eu a recusar uma atriz com o talento dela, e como se não bastasse o seu talento de atriz, a Márcia foi fundamental na construção da dramaturgia de quase todos os curtas, ela é extremamente criativa e de certa forma, foi quem disparou a maioria das idéias/plots dos curtas, nesse sentido, nesse curta em especial, todo o clima de perversão é mérito dela.

A cena da calcinha me lembrou aquele segmento do Pasolini no DECAMERON, com as freiras tirando proveito sexualmente do cara porque achavam que ele era surdo-mudo. Com a diferença que a Márcia passou muito mais amor na seqüência. Não era só sexo ali. Como você lida com a realização das cenas de sexo? Não rola nenhuma inibição da sua parte ou da parte do elenco? Vi que no seu curta mais recente, que vamos falar mais na frente, você ousou ainda mais nesse aspecto.

Interessante você falar da cena da calcinha, é a minha preferida nesse curta. Se bem que curto muito os closes da Márcia, tanto quando ela olha por aquela estranha abertura que liga a cozinha com a sala - vale dizer que essa locação teve papel determinante na mise'en'scène -, como também na cena final quando ela reage de forma ambígua e contraposta ao plano que citei. Se no primeiro close a ênfase é na perversão, nesse outro momento há um incomodo e uma ternura pela revelação que o rapaz expõe. Mas voltando à cena da calcinha, trata-se de uma citação fundamental desse curta e da qual pouco costumo falar, mas minha intenção foi reproduzir o erotismo que sempre me fascinou no cinema do 'esquecido' Salvatore Samperi, em especial, no filme MALÍCIA, que eu certamente adoraria ter na minha devedeteca.

Agora, sobre as cenas de sexo, como os curtas desse projeto surgiram de uma oficina, e como a temática sexual sempre me interessa, eu procuro de cara, ser o mais honesto possível com os atores, no sentido de deixar claro que esse tipo de cena pode rolar e procuro saber se há alguma restrição por parte deles. Dito isto, não tento impor essa linha, ao menos nesses casos envolvendo oficinas, mas o fato é que isso acaba surgindo naturalmente, em alguns momentos, pode gerar alguns entraves e/ou travamentos com determinados atores, e se isso ocorre, procuro sempre respeitar o ponto de vista do envolvido. Se fulano disse no início que não via problemas em ficar nu ou aparecer em cenas de sexo e quando se defrontou com o fato: 'amarelou'. Ok! Vamos contornar e, como diz o Lumet, o ator já se expõe, se desnuda o tempo todo do ponto de vista emocional, logo, não há porque forçá-lo a ir além de onde não deseja. Por outra, a sua pergunta direciona para o momento da realização, mas acontece que sou muito partidário dos ensaios, então procuro quebrar o gelo nesse processo anterior. Lembro de uma das atrizes de OFERENDAS (o curta mais recente) dizer sobre esse meu jeito manhoso de conseguir o que quero, tipo, em determinado momento dos ensaios, sugeri que assumíssemos a futura nudez que apareceria na cena, e assim foi feito. Já na realização em si, ao mesmo tempo em que busco criar um clima propício de confiança e intimidade que permita alcançar uma certa naturalidade, procuro em contrapartida, oferecer condições mínimas de um grau de profissionalismo possível, ou seja, evito as brincadeiras de mau gosto e peço a contribuição dos demais nesse sentido, tipo, a produção não deixa quem não for necessário ficar presente no set; oferece-se um roupão aos atores, homens e mulheres, para que não se exponham nos intervalos das gravações. Isso pode parecer uma bobagem, e às vezes, com o andar da carruagem, os atores acabam dispensando esse artefato, mas ele traz um grau de seriedade entre a equipe e o elenco. Enfim, detalhes pequenos, mas que demonstram que antes de tudo, a principal razão de ser da cena de sexo e/ou nudez está ligada à necessidade dela existir no filme e nada além disso.

Agora, vou fazer uma confissão, acho que sou bom público para os meus trabalhos, pois na hora das gravações o objetivo central é conseguir a atmosfera necessária para a cena. Nesse sentido, fico bastante concentrado. No entanto, ao assistir CLAUSTRO, e já falei isso pra Marcinha, toda vez que a vejo tirar a calcinha e depois lamber o rosto do rapaz, é como se estivesse assistindo um filme de Salvatore Samperi, se é que você me entende. Mas isso em nenhum momento afeta o respeito pelo ator em cena, é mesmo um distanciamento que consigo ter sobre o meu próprio trabalho, e quando encontro com a Marcinha, é a amiga que vejo e não aquela personagem que conseguiu me provocar enquanto público.



Falando em sexo e nudez, passemos para JOGOS, que é um dos seus curtas que eu mais acho com cara de introdução de longa-metragem. Na minha cabeça, daria para continuar a contar a história daquele sujeito que trabalha de michê, quase uma versão brasileira de GIGOLÔ AMERICANO. ;) E das duas garotas também. A falta de pressa do curta acabou contribuindo em parte pra essa sensação que tive. Como surgiu a idéia para a realização do curta?

Bem, JOGOS é um caso a parte, uma trajetória estranha e ao mesmo tempo surpreendente. Entre alguns dos festivais internacionais que anda percorrendo, acabo de saber que será exibido em Jacarta - Indonésia, o que, convenhamos, é motivo de muito orgulho pra mim. Enfim, digo isso porque ao término das gravações tive a sensação de que não havia dado o melhor de mim, que por razões diversas, algumas de bastidores, eu estava meio mal-humorado, o que raramente acontece no set de filmagem, e esse incômodo seguiu até mesmo após a finalização do trabalho, ainda que nessa etapa eu tenha me animado um pouco mais com o resultado. Mas respondendo à sua pergunta, a idéia como sempre surgiu através das improvisações, mas, nesse caso específico, acho que interferi bastante, pois inicialmente a cena envolvia um casal hetero e um rapaz, que por sua vez, não se tratava de um michê, e era apenas uma pessoa que o casal havia conhecido em uma festa de embalo. Ao acordarem, eles (o casal) ficavam constrangidos com a situação e não sabiam como lidar com os fatos. Daí resolvi mudar o rumo das coisas e apesar de não assumir a citação, alguns amigos já sacaram que esse trabalho é dos mais influenciados pelo mestre Khouri. É uma espécie de AS FERAS, sem, no entanto, dar a mesma ênfase ao tom agressivo em relação às mulheres por conta do macho ferido. O nome do rapaz é Marcelo, e me pareceu legal inverter a premissa 'khouriana' de ao invés do cara pagar duas garotas, elas pagarem pelo cara, e por conta desses caminhos, me ocorreu que seria interessante falar de ciúmes, dor e tentativa de renovação de uma relação.

Os efeitos visuais na cena das duas mulheres se beijando fazem com que nos esqueçamos da presença do michê. É como se, no momento do beijo, elas estivessem em outra dimensão, fora do mundo material. A intenção foi essa mesmo? Geralmente tudo que ocorre em seus filmes é proposital ou alguma cena acaba ficando de determinada maneira por acidente?

Um exemplo de como as coisas se dão: estávamos na locação, que por sua vez fora escolhida por conta da fantástica vista para a Av. Paulista, e de repente me dei conta que a câmera estava encurralada em ângulos que não mostravam aquela visão, e pensei de imediato que o personagem do rapaz poderia crescer e ficar menos a reboque das garotas, e isso gerou o famigerado plano da janela que muitos amigos curtem. Há um outro momento em que o curta escapou do planejado. É no plano 'quase final' em que o rapaz recebe o dinheiro e vai embora. Esse plano tinha outra solução, mas eu não estava satisfeito com o tom das falas e das reações do rapaz, menos por culpa dele e muito mais pelo meu mau humor que me impedia de dirigi-lo satisfatoriamente. Então pensei que deixar seu texto off e mostrá-lo apenas em detalhe das mãos recebendo a grana poderia ser uma solução interessante, mas quis realizar um plano seqüência e a câmera seguia a saída do cara e depois a outra menina encurralava a primeira que acompanhou o rapaz, mas na edição percebeu-se que esse final não funcionava, e foi então que lembrei da banda "The Boom Boom Chicks" e que talvez fosse legal cortar o plano ao meio e fundir a cena das garotas com um trecho da janela ainda vazia sobre o som muito alto astral do "The Boom Boom Chicks" e dando uma de Lumet, não à toa, no aparecimento dos nomes dos atores, após o do rapaz desaparecer, o nome das garotas se movimentam provocando um 'encaixe'.

Sobre a cena dos efeitos visuais, é muito bom ouvir esse seu comentário. Essa solução foi meio circunstancial, ele de certa forma tem a ver com o motivo do meu mau humor naquele dia, pois as duas atrizes, que entendo como talentosas, estavam embaraçadas por serem absolutamente convictas na sua heterossexualidade e em razão disso, a cena não tinha 'pegada', ou seja, não tinha tesão. Então pensamos em 'camuflar' esse 'pequeno detalhe' com o tal efeito e que resultou nessa sua impressão que vem bem a calhar para a narrativa do filme, pois de fato, era isso que estava acontecendo do ponto de vista dramático, e se a tal solução enfatizou, fico muito feliz em saber.

Acho que essas situações respondem à sua pergunta. Minha tese geral é meio parecida com a do Carlão e a do Michael Cimino, tipo, se quisesse trabalhar com tudo controlado e planejado, ia ser engenheiro ou bancário ou coisa que o valha, bater ponto em se tratando de arte é das coisas mais sacais que existem. O prazer está em se permitir ser surpreendido. Não à toa, dois dos meus diretores preferidos improvisavam pra caramba: Sam Peckinpah e Luis Buñuel.

Por isso que Hitchcock achava chata a tarefa de dirigir o filme, de botar a mão na massa, já que ele já pensava o filme inteiro na cabeça por antecedência. E dificilmente as coisas saiam diferentes do que ele queria, não é?

É possível que esse fosse o motivo. O fato concreto é que em se tratando de uma produção em audiovisual, é necessário algum planejamento por conta do alto custo que envolve o processo. Logo, não necessariamente um diretor que tem o storyboard (o desenho plano a plano de um filme) todo preparado com antecedência, é em razão disso um burocrata. Ele pode até trabalhar com essa antecipação, desde que dê espaço para o acaso, que não faça desse planejamento uma espécie de camisa de força que engessa o processo de criação.



Pena eu não ter como rever o OFERENDAS (2006), que tive a oportunidade de ver na sua casa. Dos teus curtas, foi o que eu mais senti um clima meio Bergman. E olha que se trata de um filme do gênero terror. Esse curta chegou a ter alguma exibição pública, digo, num cinema? Tem previsão?

OFERENDAS é o meu trabalho mais radical no sentido da mais absoluta abertura para a improvisação. Ele praticamente não tinha um roteiro. Na verdade, não existia um pedaço de papel que dissesse o que viria a seguir, mas de um modo geral, os envolvidos conheciam uma estrutura básica da trama, algo do tipo: "os caras chegam em uma festa 'meio estranha', conhecem duas garotas e são seduzidos". Lógico que também havia um epílogo, mas não cabe contar para não tirar o interesse de quem ainda não viu o curta. Esse processo enfrentou muitas dificuldades, algumas seriam complicadoras mesmo que o filme estivesse plenamente organizado, como a questão da chuva no dia em que a banda que participava na cena apresentando um show, tipo, os caras tinham que seguir pra Campinas no meio da madrugada e a gente teve que encontrar brechas pra seguir gravando. Já em outros momentos, ocorreu de se criar uma seqüência inteira como a das sombras chinesas para sair de uma externa para uma interna, enfim...

Pessoalmente, enxergo mais Bergman em LOURDES do que em OFERENDAS, se bem que há um quê de PERSONA em OFERENDAS - hehehe -. Ainda assim, como o que mais gosto em Khouri é o lado bergmaniano e não o lado Antonioni, e LOURDES é muito referencial ao cinema do Khouri, valorizando os closes como fio condutor da narrativa, logo....

E Bergman flertou com o horror em pelo menos duas ocasiões: O SÉTIMO SELO e O SILÊNCIO e segundo dizem, fez literalmente um filme de horror em A HORA DO LOBO, mas infelizmente desconheço esse.

Ainda em relação as referências de OFERENDAS, a principal delas devo ao amigo Marcelo Carrard, razão inclusive da existência de uma fala em inglês no curta, trata-se do filme ALL THE COLORS OF THE DARK, de Sergio Martino, uma espécie de sub-O BEBÊ DE ROSEMARY no melhor dos sentidos e que o Marcelo foi a pessoa que me apresentou ao filme.

E respondendo à sua pergunta, OFERENDAS teve uma única exibição pública no recente "1.º Festival de Cinema Fantástico de Ilha Comprida", mas infelizmente não pude estar por lá e ainda não tive notícias da recepção que teve.

Agora, falemos um pouco sobre seus planos para o futuro. Se é que você pode contar alguma coisa. Obviamente, você tem interesse em dirigir o seu primeiro longa-metragem. O que podemos esperar de um primeiro longa seu? Será um drama ou um terror?

Bom, acho que cabe recuperar as respostas de outras duas perguntas anteriores. Em uma delas você quis saber se havia influência estética do Carlão no curta CLAUSTRO, e eu respondi que era mais dramaturgica, em outra, você me perguntou sobre meu processo de criação e eu citei o Carlão e o Cimino como diretores que respeito por não curtirem a rigidez de um planejamento meticuloso. Assim como o Buñuel, que é um dos meus mestres, eles consideram importante deixar um espaço para o acaso, o frescor que surge da necessidade de se adequar às circunstâncias. Todo esse preâmbulo é no sentido de esclarecer que nem sempre fui um ardente defensor dessa tese, mas se há uma lição fundamental que tirei da experiência em ser assistente do Carlão, ela está associada à observação do processo admirável de criação da parte dele, algo realmente fascinante, que muito porca e resumidamente, eu diria que pode ser definido como não ter medo de enfrentar a pressão que é ter toda uma equipe em função das suas decisões e, ainda assim, se permitir esperar o "milagre da criação". Mas ao mesmo tempo, saber que se o milagre não vem, é preciso fazê-lo surgir. Por outra, há uma segunda lição que o Carlão me passou, que é não se tornar escravo de um projeto e para isso é sempre preciso ter mais dois ou três projetos na gaveta.

Sendo assim, tenho três projetos de longa em andamento mas nenhum está em situação real que permita projetar a época em que serão realizados. Um deles, o que está mais bem estruturado e em condições de se viabilizar, surgiu a partir de um título com o qual o Carlão me presenteou: "Matem as Lobas no Rebanho", esse título genial estava atrelado a um plot que ele também me ofereceu, mas o plot apesar de excelente, não me fisgou, sendo que acabei ficando com o título e por conta da trama que desenvolvi a partir dele, acabei por sentir a necessidade de alterar o artigo masculino e o título atual é "Matem os Lobos no Rebanho". Esse projeto está caminhando nos editais da vida e já bateu na trave no B.O. do MinC, chegando à penúltima fase de seleção, mas como bola na trave não é gol, sigo na partida. Trata-se do que gosto de chamar de um policial social, e nesse sentido, como não faço a menor questão de esconder as minhas referências, será um filme credor de Sidney Lumet e Walter Hill, mas dramaturgicamente falando, há referências peckinpahnianas. A história fala de uma dupla mista de policiais em meio a periferia de sampa. Eles já tiveram um caso, mas atualmente estão separados e em trabalhos distintos, há movimentos sociais ao redor da trama, mas o fio condutor é a relação mal resolvida desses dois personagens. Há um quê de tragédia atravessando toda a história e pessoalmente curto muito os personagens coadjuvantes. Os outros dois projetos são filmes que não deixam dúvida quanto ao aspecto secundário dos personagens masculinos, um deles é um filme sobre bruxas, e do qual posso dizer que OFERENDAS foi uma espécie de aperitivo do projeto, inclusive, usando uma música do grupo Euthanasia, do amigo Heráclito Maia, e que assumo aqui publicamente que fará parte da trilha do longa. Vale dizer, caso o Heráclito leia essa entrevista, o Dennison Ramalho curtiu demais a música. Assim como o terceiro projeto, esse filme ainda está no argumento, por isso não dá pra dizer muita coisa. Mas entrando no terceiro projeto, eu não posso dizer praticamente nada por ora. É um segredo de estado. Mas o fato é que se estivesse com a grana nas mãos, seria dos três, o que me dedicaria a realizar, dá pra adiantar que é fruto de uma parceria surgida através da Internet e, enquanto gênero, pode ser definido como um drama.

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