quarta-feira, agosto 02, 2006

APENAS UM BEIJO (Ae Fond Kiss)



Não sou conhecedor do cinema de Ken Loach. De sua longa carreira, APENAS UM BEIJO (2004) é apenas o terceiro filme que vejo dele. PÃO E ROSAS (2000) me dá saudade mais pelos amassos que eu dei numa menina durante a projeção - e no agradável pós-cinema - do que pelo filme em si. Por isso que quando soube que Loach ganhou a Palma de Ouro esse ano, não fiquei tão animado. Até esnobei um pouco a decisão do júri, mesmo sem saber nada a respeito de THE WIND THAT SHAKES THE BARLEY (2006). Porém, lendo um texto sobre Loach no Senses of Cinema, fiquei sabendo da importância de sua obra. Um detalhe que me chamou a atenção foi sobre o curta CATHY VOLTA PARA CASA (1966), um de seus primeiros trabalhos. O filme promoveu um debate tão grande sobre o assunto dos sem-teto na Inglaterra que, por causa dele, o Governo desenvolveu o projeto Shelter, que cuida daqueles que não têm onde morar. E o projeto existe até hoje. Não é interessante ver o quanto a arte pode afetar de maneira objetiva a realidade? Loach faz, assim, um trabalho ao mesmo tempo de arte e de política. Em grande parte de seus filmes, ele nos mostra que a vida não necessariamente tem que ser daquele jeito, que nós podemos mudar a situação com muita luta.

APENAS UM BEIJO trabalha questões sociais, mas deve agradar também àqueles que querem ver apenas uma bela história de amor. No filme, rapaz paquistanês que trabalha como DJ tem um casamento arranjado com uma prima que ele nunca viu na vida. Ele virá a se casar em poucas semanas. A situação se complica quando ele se apaixona por uma escocesa católica e começa a namorar a moça às escondidas de sua família. Os dois irão enfrentar a intolerância e o preconceito tanto do lado dos mulçumanos quanto dos católicos.

Loach realiza um filme sobre as dificuldades de se viver um amor e de como as tradições e o estado das coisas podem servir de empecilho para a felicidade. O que também me surpreendeu foi a sensibilidade de Loach nas cenas de sexo, cheias de calor e afeto. A loirinha que faz a protagonista exala sensualidade nessas cenas. O filme só incomoda um pouco em determinados momentos, como naquele em que ela se mostra extremamente egoísta e não entende que o rapaz precisa trabalhar. Ou nas cenas que mostram a família dele forçando a barra para que os dois se separem. Mas mesmo nessas cenas, o filme é bastante competente na tarefa de nos deixar indignados com aquela situação. Interessante também a habilidade de Loach de fazer filmes sobre sociedades distintas da sua, seja um filme sobre paquistaneses na Escócia; sobre a Guerra Civil Espanhola - TERRA E LIBERDADE (1995) - ou sobre mexicanos tentando a sorte nos EUA, como PÃO E ROSAS. O homem é corajoso.

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