terça-feira, maio 02, 2006

UM CONDENADO À MORTE ESCAPOU (Un Condamné à Mort S'Est Échappé ou Le Vent Souffle où il Veut)

  

Eu já adoro filme passado em prisão. Imagina um desses dirigido por ninguém menos que Robert Bresson. Com UM CONDENADO À MORTE ESCAPOU (1956), Bresson cometeu sua primeira obra-prima, foi quando seu estilo inconfundível se aperfeiçoou. O diretor ainda faria um outro filme de prisão, o também maravilhoso O PROCESSO DE JOANA D'ARC (1962). Alguns críticos tem em UM CONDENADO À MORTE ESCAPOU o seu ápice. Não sei se é meu preferido dele, mas se fosse indicar um filme de Bresson para alguém ver pela primeira vez, com certeza seria esse. 

Na trama, oficial do exército francês (François Leterrier) é aprisionado pelos nazistas, que costumam, de vez em quando, fuzilar seus prisioneiros. Apesar das dificuldades, ele consegue elaborar um plano de fuga. O primeiro objeto que ele utiliza para a fuga é uma colher. Trata-se de um enredo bastante simples. Bresson, com pouca utilização de diálogos, narra o processo de fuga desse homem. O ator - ou melhor, modelo - é a cara do Adrien Brody. Fiquei até imaginando se Polansky, quando fez O PIANISTA, não se inspirou nesse filme do Bresson, inclusive pela escolha de Brody para o papel. Mas não li nada a respeito e isso é pode ser só viagem minha. 

O filme começa em tom solene, ao som da música de Mozart. A utilização de música, no entanto, é bem econômica, geralmente apenas ligando uma cena à outra. O silêncio é que é bastante presente, coisa que já se espera de um filme de Bresson. No cinema do diretor, todos os gestos são lentos e sacros. A música de Mozart ajuda a tornar isso ainda mais forte. A religião do diretor, o Catolicismo Jansenista, tem tudo a ver com a disciplina do protagonista para atingir o seu objetivo. 

Para encerrar, transcrevo alguns trechos do já clássico "Notas sobre o Cinematógrafo", livro de anotações de Bresson: "O importante não é o que eles (os atores) me mostram, mas o que eles escondem de mim, e sobretudo o que eles não suspeitam que está dentro deles. Entre eles e eu: trocas telepáticas, adivinhação." "Dois tipos de filmes: aqueles que utilizam os recursos do teatro (atores, encenação, etc.) e se servem da câmera com o intuito de reproduzir; aqueles que utilizam os recursos do cinematógrafo e se servem da câmera com o intuito de criar." "Quantos filmes remendados pela música! Inunda-se um filme de música. Impede-se de ver que não há nada nessas imagens." "Quem pode com o menos pode com o mais. Quem pode com o mais não pode obrigatoriamente com o menos."

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