quinta-feira, abril 13, 2006

VIVER A VIDA (Vivre sa Vie: Film en Douze Tableaux)

  

Finalmente um filme de Jean-Luc Godard que me deixou extasiado. Acho que isso aconteceu pelo fato de o filme ser um dos mais tristes da filmografia do diretor e todos os outros que eu vi tangenciavam a paródia, tinham um senso de humor peculiar e todo do diretor. Humor é algo muito particular. Mas a tristeza não: ela é universal. E como eu tenho uma queda pela melancolia nas artes ("I only listen to the sad sad songs"), VIVER A VIDA (1962) me pegou. 

Desde os primeiros acordes da música de Michel Legrand até aquele trágico e abrupto final, passando pelas experimentações vanguardistas do diretor e a divisão do filme em capítulos, VIVER A VIDA é uma dessas maravilhas que o cinema gera e que fica guardado no nosso coração e na nossa mente muito provavelmente até nossa morte. Claro que ainda é cedo para ficar proclamando que VIVER A VIDA é o meu Godard favorito - o homem tem uma filmografia de mais de 70 títulos e eu só assisti até agora a apenas nove, incluindo aí três curtas -, mas por enquanto posso dizer que é. E o filme deve crescer ainda mais numa revisão. 

VIVER A VIDA é a história de uma mulher que vende seu corpo para preservar sua alma. Por causa da temática quase espiritual, o filme se aproxima das obras de Robert Bresson e Carl Theodor Dreyer. Inclusive, numa cena, Anna Karina vai ao cinema e assiste ao clássico A PAIXÃO DE JOANA D'ARC, de Dreyer. Em alguns momentos Karina até fica parecida com Maria Falconetti, especialmente quando ela chora enquanto vê o filme. O primeiro capítulo mostra Karina conversando com um homem, os dois de costas o tempo inteiro. Eles estão sentados no balcão de um bar e a câmera em nenhum momento mostra seus rostos, a não ser através de um espelho. Num outro capítulo, vemos detalhes de como o negócio da prostituição se desenvolve. No caso da personagem de Karina, entrar no mundo da prostituição foi a única saída, já que nem mesmo entrar no seu quarto alugado ela podia mais, por falta de dinheiro. Outra seqüência linda é aquela que mostra Karina cantando e dançando num bar enquanto alguns homens jogam sinuca. O gosto de Godard pela leitura aparece quando ouvimos trechos de "O Retrato Oval", de Edgar Allan Poe. 

Se não conseguir cópia de O PEQUENO SOLDADO (1963), devo alugar RO.GO.PA.G (1963), projeto coletivo em que Godard dirige um segmento. Os outros três são dirigidos por Roberto Rossellini, Pier Paolo Pasolini e Ugo Gregoretti. 

Agradecimentos, mais uma vez, a Carol Vieira, que me emprestou esse belo DVD lançado no Brasil pela Magnus Opus.

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