Se for pra escolher entre o filme de assalto tenso e violento e o filme de assalto leve, limpo e inteligente, fico com o tenso e violento. Sou mais um filme como UM DIA DE CÃO ou O HOMEM QUE BURLOU A MÁFIA do que títulos como ONZE HOMENS E UM SEGREDO ou THOMAS CROWN - A ARTE DO CRIME. Esse segundo subgênero em geral me dá sono, me aborrece até. Exceção, talvez, para UMA SAÍDA DE MESTRE, que por alguma razão que eu não sei explicar me agradou muitíssimo. Quando ouvi comparações do novo filme de Spike Lee com UM DIA DE CÃO, o super-clássico de Sidney Lumet, fiquei bastante entusiasmado. Porém, para minha decepção, O PLANO PERFEITO (2006) se aproxima mais do filme de assalto inteligente e enganador. Resultado: fiquei com sono no cinema, coisa que eu odeio. Se for pra sentir sono durante o filme, que seja em casa, onde posso interromper a fita ou o DVD pra tirar uma soneca e depois retomar de onde parei. (Se bem que vem a dúvida cruel: senti sono porque não estava gostando do filme, ou não gostei do filme porque senti sono?)
O PLANO PERFEITO é um filme atípico na carreira de Spike Lee, marcada em sua maioria por filmes que abordam questões sociais e étnicas. Geralmente, seus filmes são produções de baixo orçamento, mas que contam com nomes famosos de Hollywood. Vários de seus filmes, inclusive, são lançadas no Brasil apenas no mercado de vídeo. À primeira vista, O PLANO PERFEITO parece apenas mais um thriller convencional, sem uma marca autoral. À segunda vista, também. Na verdade, não consigo ver O PLANO PERFEITO como um filme de Spike Lee. Não que haja algo de errado em se fazer trabalhos mais comerciais e conseguir um bom dinheiro com isso. É que é tudo muito estranho.
A personagem de Jodie Foster, por exemplo, é a mais enigmática. Não dá pra entender direito que tipo de pessoa ela é. Uma espécie de lobista, ouvi dizerem. Uma pessoa com forte influência política. Talvez a sua personagem seja a chave para entender o filme. Denzel Washington continua muito bem, mas parece estar no piloto automático, no papel do policial meio malandro, dando a impressão de que a gente já viu esse filme antes. Completa a trinca principal, Clive Owen, como o líder do assalto ao banco.
As reflexões sociais estão presentes nos detalhes. A que eu mais gostei foi aquela do garotinho e o seu mini-videogame violento. O menino é fã do lema de 50 Cent, que diz "get rich or die trying". No fim das contas, fiquei sem entender se essa crítica seria ao novo rap americano tão ligado à riqueza e ao luxo ou se esse rap do 50 Cent já não carregaria em si uma certa ironia ao capitalismo nos Estados Unidos. Apesar dessas sutilezas, O PLANO PERFEITO não deixa de ser mais um blockbuster com um diretor talentoso atrás das câmeras. Pode ser mais do que isso, pode até ser um dos melhores filmes do diretor, mas fazer o que se ele não me impressionou em momento algum? Enquanto isso, fico torcendo pelo retorno do Spike Lee que eu aprendi a gostar. E de grandes filmes como FAÇA A COISA CERTA (1989) e A ÚLTIMA NOITE (2002).
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