quarta-feira, fevereiro 22, 2006

LAST DAYS

 

Depois de ELEFANTE (2003), a carreira de Gus Van Sant passou a ser revisada até por seus antigos detratores. Na verdade, a nova fase na carreira do diretor já havia começado com o pouco visto GERRY (2002), inédito no Brasil, exceto pelas exibições no Cinemax. Hoje comparam o trabalho de Van Sant ao de cineastas de vanguarda como Tsai Ming-Liang, Abbas Kiarostami e irmãos Dardenne. Assim como os filmes desses diretores, esse últimos títulos de Van Sant exigem do público uma certa disposição para entrar na viagem.

Quando soube que o cineasta faria uma versão livre dos últimos dias da vida de Kurt Cobain num filme chamado LAST DAYS (2005) claro que fiquei ansioso pra ver. O Nirvana foi uma banda importantíssima pra mim. Infelizmente, aqui no Brasil, o filme foi exibido apenas na Mostra Internacional de São Paulo (ou do Rio, ou ambas, não lembro) e até o momento nenhuma distribuidora o trouxe. Nem mesmo em DVD. Com as maravilhas da tecnologia, que permitem baixar um filme numa noite e ver num aparelho de DVD que toca divx no dia seguinte, lá fui eu apelar para ver o filme na telinha. Paciência tem limites, né? É claro que eu prefereria ver LAST DAYS na gloriosa telona do cinema, mas fazer o que?

Talvez por conta de minha alta expectativa, talvez por ter visto o filme na telinha e ainda por cima um pouco solonento, acabei me decepcionando um pouco com LAST DAYS. Em alguns momentos, senti a impressão que Van Sant estava sendo até um pouco picareta e enrolão. Como naquela cena em que a câmera fica um longo tempo parada de frente para a casa do músico (que não se chama Cobain, mas Blake) sem que nada aconteça. Aliás, no filme nada realmente acontece. Vemos o músico tomando banho num rio, depois ficando chapado e se vestindo de mulher, recusando-se a atender o telefone que não para de tocar, tocando um pouco de guitarra, recebendo dois mórmons. Tudo de maneira extremamente lenta e desanimada. Como deve mesmo ser algo que aborde uma pessoa com depressão em alto grau.

A idéia de LAST DAYS é passar a sensação de que alguém seguiu Blake com uma câmera por 48 horas e depois editou os melhores momentos num filme de 90 minutos. Dentro dessa "proposta" há exceções, já que o filme não se concentra exclusivamente em Blake. Um dos momentos mais memoráveis do filme, inclusive, está naquela cena em que os amigos do cantor - que estão na mesma casa - ouvem "Venus in Furs", do Velvet Underground, enquanto a câmera, como um fantasma, passeia vagarosamente pelo quarto.

Dizem que o filme faz parte de uma chamada trilogia da morte, composta pelos citados GERRY e ELEFANTE. Resta saber se esse caminho que o diretor trilhou vai repercutir nos seus próximos filmes ou se o diretor vai voltar a fazer filmes mais comerciais. De todo modo, Van Sant está se especializando em trazer à tona propostas sensacionais. O seu próximo filme, THE TIME TRAVELER'S WIFE (2006), é a respeito de um homem que viaja no tempo para visitar a sua esposa em diferentes épocas. Eu, como sou fascinado com esse negócio de viagem no tempo, já fiquei ansioso pra conferir o resultado.

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