terça-feira, novembro 22, 2005

A GRANDE VIAGEM (Le Grand Voyage)

 

O subgênero road movie já garante um certo interesse para o espectador. Isso porque uma viagem por si só é algo bastante excitante: encarar a estrada, o desconhecido, curtir o meio até chegar ao fim, quase que uma metáfora da vida. Filmes como E SUA MÃE TAMBÉM, de Alfonso Cuarón, DIÁRIOS DE MOTOCICLETA, de Walter Salles, ou mesmo uma comédia besteirol como CAINDO NA ESTRADA, sempre nos despertam um certo espírito viajante e uma empolgação inicial pela viagem. Se o resultado final vai ser satisfatório ou não, aí já é outra história. 

A GRANDE VIAGEM (2004), do cineasta marroquino Ismaël Ferroukhi, pertence a essa leva de filmes. Na verdade, o caminho percorrido pelos dois protagonistas é ainda mais interessante do que qualquer um dos filmes citados acima. Saindo da França, passamos por países como Itália, Sérvia, Bulgária, Turquia, Síria, Jordânia, até chegar ao destino final, que é Meca, a cidade sagrada dos muçulmanos. Os dois protagonistas são um jovem adolescente e seu pai. O velho acredita que não tem muito tempo de vida e, como um islamita fiel, precisa fazer a sua peregrinação até a cidade sagrada. 

O filme, inclusive, foi a primeira obra de ficção a receber autorização do governo árabe para filmar a cidade. Não deixa de ser um pouco decepcionante o final da jornada dos dois, já que o final do filme carece de um maior impacto e de uma emoção que deveria ter sido crescente. Os minutos finais de A GRANDE VIAGEM acabam tornando o filme chato e cansativo. Mas enquanto o final não chega o negócio é curtir a viagem. 

E há muitos momentos interessantes durante a jornada desses dois sujeitos totalmente diferentes. O jovem, Réda, não tem nada em comum com o pai. Ele representa os jovens que se desprendem de suas raízes, se tornam mais ligados à modernidade da cultura ocidental. Ele é forçado a fazer essa viagem com o pai porque é o único da família que pode dirigir e o pai não quer fazer a viagem de avião - seria confortável demais para uma peregrinação religiosa, que requer um certo sacrifício. Já o pai, prefere se desprender da cultura francesa, preferindo falar em árabe com o filho, com o objetivo de fazer com que ele se insere mais no espírito da viagem. Em momento algum o filme julga qualquer um dos dois: cada um se comporta de acordo com sua motivação. A viagem é um aprendizado para ambos. Os dois apresentam-se com seus defeitos e suas qualidades. 

Entre os momentos memoráveis do filme estão aqueles que apresentam duas pessoas que cruzam o caminho dos dois: a velha, que mais parece um fantasma, e Mustafá, o homem que se oferece para viajar com os dois, uma prova de que nem todo muçulmano é radical. 

Ismaël Ferroukhi, o diretor, disse que a inspiração para a realização desse filme veio porque seu pai fez uma viagem dessas quando ele era criança e ele sempre sonhava com algo semelhante. Daí resolver materializar isso num filme. E pra isso, ele evita uma característica mais contemplativa, típica dos road movies, e prefere trabalhar mais com o relacionamento dos dois e menos com as paisagens. O que, de certa forma, frustra um pouco as expectativas de quem quer "pegar uma carona" com os personagens.

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