quinta-feira, novembro 24, 2005

A DAMA DE HONRA (La Demoiselle d'Honneur)

 

Primeira vez que vejo um Claude Chabrol no cinema. De sua obra, só havia visto, na tela pequena, os ótimos CIÚME - O INFERNO DO AMOR POSSESSIVO (1994) e MULHERES DIABÓLICAS (1995), filmes que me deixaram com uma ótima impressão do trabalho do diretor. Infelizmente, de seus mais de 50 filmes, poucos estão disponíveis em vídeo no Brasil para que possamos fazer uma peregrinação por sua obra. 

A DAMA DE HONRA (2004), o mais recente filme do incansável Chabrol, parece uma mistura de Alfred Hitchcock com Dostoievski: um misto de PACTO SINISTRO com o romance "Crime e Castigo". Na trama, rapaz conhece uma intrigante jovem na festa de casamento de sua irmã. Os dois se apaixonam um pelo outro, mas a moça vai se revelando cada vez mais estranha. Ela acredita que matar alguém é uma forma de demonstração de amor e que também é uma maneira de se mostrar superior diante do restante dos mortais, sujeitos a regras de moral e a complexos de culpa. 

Li uma entrevista de Chabrol em que ele diz que até gosta quando o comparam com Hitchcock, mas ele se acha mais próximo de Luis Buñuel. A comparação com o mestre do surrealismo se dá menos pela trama de crime e mais pelo viés da anarquia. Assassinar alguém para demonstrar o amor seria uma maneira de se rebelar. Eu, pessoalmente, devido talvez ao meu sentimento de culpa cristão, acho tudo isso absurdo. Mas adoro quando algum diretor procura passar as suas idéias e consegue fugir do moralismo dominante. 

Chabrol tem idéias bem pouco tradicionais. Segundo ele, em entrevista ao jornal espanhol La Vanguardia, "a família é uma das maiores fraudes que existem. A idéia tradicional da família é abominável e a da árvore familiar é uma invenção monstruosa. A família torna-se atroz quando se transforma em uma estrutura social obrigatória." 

A atriz que faz a personagem de Senta, a jovem maluca, é Laura Smet, filha da famosa Nathalie Baye. Ela tem um quê de Ornella Mutti, só que muito mais fatal. Aliás, a mulher fatal parece ser uma constante na obra de Chabrol. Seu cinema, além de ser comparado com Hitchcock, também é devedor do cinema de Fritz Lang. Tanto que Chabrol chegou a fazer um filme chamado DOUTOR MABUSE E SEU DESTINO (1990), uma homenagem explícita à obra languiana. Aproximando-se de Hitchcock, Chabrol chegou a trabalhar com Anthony Perkins, o eterno Norman Bates, em DEZ DIAS FANTÁSTICOS (1972).

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