sábado, agosto 13, 2005
OLDBOY
Uma boa essa chegada de filmes asiáticos no Brasil. Espero que não seja um fenômeno passageiro. Isso está ajudando as salas de cinema a se tornarem palco de coisas cada vez mais inusitadas, como foi o caso recente da comédia chinesa KUNG-FUSÃO, de Stephen Chow. Da Coréia do Sul, um dos países que mais tem crescido nas artes cinematográficas nos últimos anos, chega ao Brasil o celebrado OLDBOY (2003), de Chan-wook Park. OLDBOY é o segundo filme de uma trilogia de vingança de Park, sendo que o primeiro e o terceiro filmes se chamam, respectivamente, SYMPATHY FOR MR. VENGEANCE (2002) e SYMPATHY FOR LADY VENGEANCE (2005).
Park parece um cruzamento de Brian De Palma com Takashi Miike. Estão lá as obsessões por espelhos e lentes, os planos-seqüência estilosos e a violência brutal e traumática que fazem a fama desses dois cineastas. Inclusive, há uma cena de OLBOY que lembra imediatamente uma das mais perturbadoras seqüências de ICHI THE KILLER (2001), de Miike, só que bem menos explícito. Em OLDBOY, Chan-wook Park até nos poupa da violência gráfica excessiva, como na cena em que o protagonista arranca os dentes de um inimigo com um martelo. O que não quer dizer que isso não vá nos chocar. Detalhe: na tal cena dos dentes, a música que toca é "As Quatro Estações", de Vivaldi. Bizarro.
OLDBOY conta a história de um homem que passou 15 anos preso num apartamento e depois é solto. Durante todo esse período, sua janela para o mundo é a televisão, servindo de escola, companheira, igreja e até amante. Seu objetivo, uma vez fora da prisão, é vingar-se de quem o prendeu, mas antes ele precisa saber quem fez isso com ele e porquê.
Uma das reações mais fortes que o filme me causou foi de indignação com a burrice dos personagens. Eles estragam suas vidas por pura idiotice, o que me incomodou bastante. Porém, como se trata de uma tragédia, e uma vez que me lembrei de "Othelo", de Shakespeare - lembro da espetacular versão de Orson Welles -, vejo que uma das principais desgraças da humanidade é a estupidez.
Para ilustrar a minha indignação, vou ter que falar de certas partes do filme, portanto, quem não viu OLDBOY, sugiro não ler esse parágrafo. Pois bem. Precisava um cara trancafiar outro por 15 anos só porque foi "bocão"? Precisava ele ter ficado com crise de consciência por ter transado com a própria filha (afinal, não foi porque ele quis)? E precisava, pelo amor de Deus, ele ter cortado a própria língua como sinal de sacrifício e submissão? A angústia e o mal estar que tudo isso me causou não encontra paralelos em outro filme. Mas prefiro não julgar os méritos éticos e estéticos do filme, até porque não me julgo capaz disso, mas às vezes me pergunto se não há mais limites para a violência no cinema e penso no quanto nós estamos nos tornando sádicos.
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