terça-feira, junho 28, 2005
CASA DE AREIA E NÉVOA (House of Sand and Fog)
Vou confessar uma coisa: se não fosse a presença de Jennifer Connelly, a mulher mais linda do cinema na atualidade, CASA DE AREIA E NÉVOA (2003) não teria me chamado a atenção. No entanto, não é apenas a beleza hipnotizadora de Jennifer o atrativo desse filme. A trama fora do comum envolvendo uma casa que é tomada de uma pessoa por um erro judicial e vendida a outra que quer lucrar com sua venda é bem interessante.
O que se pode desconfiar do filme é de um suposto moralismo. Mas mesmo que o filme se assuma como moralista, pra mim não vai deixar de ser interessante, pois está até de acordo com meus princípios. Eu não me acho ambicioso ou materialista. Por isso, de certa forma acabei com um pensamento tendencioso de achar que o que aconteceu de ruim com o personagem de Ben Kingsley foi conseqüência de seus atos. No fim das contas, ambos os personagens que lutavam pela casa teriam renunciado a ela se soubessem o que aconteceria no futuro. Há quem interprete de outra maneira. Acontece que eu não conseguiria imaginar algo diferente, tendo em vista minha crença em karma, na relação de causa e efeito, ou em nível mais profundo, por causa de minha raízes protestantes, em castigo divino. Nesse sentido, o filme lembra RÉQUIEM PARA UM SONHO, de Darren Aronofsky, que curiosamente também tem Jennifer Connelly num caminho descendente em direção ao inferno.
E me perdoem por insistir em falar da beleza da moça outra vez, mas ela não fica linda chorando? Dá vontade de levar pra casa, cuidar dela etc. Inclusive, o etc seria muito mais prazeiroso e divertido. Mas já que isso está longe do meu alcance, o único consolo é me colocar no lugar de algum personagem que possa fazer isso. O mais próximo disso no filme é o personagem de Ron Eldard, o policial casado que arranja um lugar para ela dormir. Se ele não se transformasse num semi-psicopata lá pelo final, até poderia ter me identificado com ele. Se bem que ele pode ter agido por amor.
Parece que Jennifer Connelly tem se especializado em fazer personagens sofridas. E como ela está carente nesse filme, hein. Tocante a cena que mostra ela ligando para o irmão em busca de ajuda e o sujeito diz que está sem tempo. Não se trata apenas da casa que foi perdida. Isso foi apenas o estopim de tudo. A solidão foi fator determinante para a crise depressiva da personagem. Somando-se a uma difícil abstinência de álcool (era ela alcóolatra), a perda de uma casa pode mesmo levar uma pessoa a uma tentativa de suicídio.
Há quem ache que o final do filme é grotesco, exagerado. Pode ser mesmo, mas não sei se poderia ser diferente. A cena de Ben Kingsley chorando pelo filho é emocionante. O filme tem um andamento lento que dá gosto de acompanhar. Há sempre uma contraposição da beleza da natureza, da paisagem, com o inferno pessoal dos personagens. Dá pra se pensar que o mundo é tão bonito, mas quando se está mal, tudo se torna feio. Ficamos cegos às maravilhas do mundo por causa de nossos problemas.
Interessante ver Shohreh Aghdashloo e Jonathan Ahdout desempenhando o papel de mãe e filho, fato que se repetiria na quarta temporada de 24 HORAS. Mas eu estou doido é para ver o remake de DARK WATER só pra ver a Jennifer de novo. Sim, eu sei que cobiçar a mulher alheia é pecado.
P.S.: Está no ar no Cinema com Rapadura, minha mais recente coluna. Dessa vez eu falo de uma suposta falta de idéias em Hollywood.
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