quinta-feira, abril 14, 2005

A MORTE NUM BEIJO (Kiss Me Deadly

 

"The streets looks very frightening, the rain begins and then comes lightning. It seems love's gone to pot, I'd rather have the blues than what I've got."
("Rather Have the Blues", de Nat King Cole) 

Sempre tive vontade de ver A MORTE NUM BEIJO (1955), de Robert Aldrich, mas nunca encontrei o DVD do filme nas locadoras onde tenho ficha. Por isso, foi com alegria que soube que o Cine Benfica iria passar o filme numa mostra de cinema noir, que está acontecendo até o final desse mês. Não gosto muito de ver filmes em DVD no cinema - prefiro película -, mas uma oportunidade dessas eu não podia deixar passar. 

A MORTE NUM BEIJO superou todas as minhas expectativas, que já eram bem altas. Sem querer, acabei descobrindo um filme fundamental para a criação de outras grandes obras que surgiriam depois, como CHINATOWN, de Roman Polanski; PULP FICTION, de Quentin Tarantino; CIDADE DOS SONHOS e TWIN PEAKS, de David Lynch; OS CAÇADORES DA ARCA PERDIDA, de Steven Spielberg; REPO MAN - A ONDA PUNK, de Alex Cox. O filme é considerado por muita gente como o melhor exemplar do cinema noir já produzido. 

Mas foi mesmo o final do filme, surpreendente, que me deixou com um misto de alegria, horror e excitação. Um final daqueles parece estar muito à frente do seu tempo. Por isso, prefiro não dar muitas pistas sobre como o filme se desenvolve. Mas ele começa mais ou menos assim: 

Uma mulher correndo desesperada e vestida apenas com o casaco bloqueia o caminho do detetive Mike Hammer, que estava dirigindo numa estrada escura. Ele não vê outra alternativa a não ser dar carona a ela. Depois de um breve e estranho papo (a mulher tem medo de dizer do que ela está fugindo) e de uma parada num posto de gasolina, os dois são barrados por homens armados. A mulher é torturada até a morte e Hammer acorda num hospital, depois de ter sobrevivido milagrosamente à queda do carro, que havia sido jogado num despenhadeiro. Curioso que antes disso, os assassinos, cujos rostos não apareciam, falavam coisas estranhas sobre voltar dos mortos. Claro que o detetive não vai descansar até descobrir o que está por trás disso tudo. Ah, e os créditos de abertura são exibidos ao contrário, de baixo pra cima, para acentuar o clima de estranheza do filme. 

É excitante saber que nem mesmo o detetive sabe exatamente o que está procurando em suas investigações. Isso, auxiliado pelo jogo de luz e sombras, influência do expressionismo alemão, acaba deixando o filme com uma aparência de pesadelo. Um dos momentos mais representativos desse clima de pesadelo está numa cena em que Hammer está andando numa rua escura e um homem o está perseguindo. O clima é de hostilidade, não apenas pela figura do perseguidor, que já sabemos que não vai ser páreo para Hammer, mas por causa das trevas da noite, que parecem invadir todo o ambiente. 

Uma curiosidade que me chamou a atenção diz respeito ao nome de um dos personagens: Nicholas Raymondo. Seria alguma brincadeira com o nome de Nicholas Ray? Aldrich era amigo de Ray? Ainda não li a entrevista dele do livro Afinal, Quem Faz os Filmes, mas em breve eu pego pra ler e alugo mais alguns filmes do diretor para fazer uma mini-retrospectiva. Me falta é tempo. Vontade, eu tenho muita. Quanto ao cinema noir, há chances de haver, em breve, um novo revival do gênero por causa de SIN CITY, de Robert Rodriguez.

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