A DAMA OCULTA (The Lady Vanishes)
Já que não pude viajar e nem tinha pra onde ir no reveillon, fiquei em casa revendo A DAMA OCULTA (1938), de Alfred Hitchcock, continuando a minha "peregrinação" com sua obra. O ruim foi quando os fogos começaram a pipocar e a atrapalhar o filme. Interessante a experiência que tive de me sentir alheio ao mundo. Estava me sentindo quase invisível. Durante o filme, só fui interrompido por um velho amigo de infância que passou aqui em casa para desejar um feliz ano novo, e por minha irmã perguntando se eu queria um pouco de vinho, que preferi deixar pra depois.
Quanto ao filme, já tinha visto uma vez, no telão do Centro Cultural Banco do Nordeste, mas ver filme em telão durante a hora do almoço é realmente uma ação heróica - difícil não ficar com sono. Nessa mesma época também vi ESTALAGEM MALDITA (1939), mas nesse filme eu não cochilei tanto e me lembro bem de várias cenas. De A DAMA OCULTA, eu me lembrava muito pouco da história. Por isso, vou precisar rever também vários filmes de Hitch da fase americana, que já vi há muito tempo.
A DAMA OCULTA não é tão bom quanto JOVEM E INOCENTE (1937), o filme anterior de Hitch, mas é ótimo assim mesmo. É um filme considerado por muitos como o melhor da fase inglesa do diretor. Gosto muito da primeira parte do filme, desde a apresentação dos personagens até o início da investigação. Quando a trama vai sendo solucionada lá pelo final, o filme vai ficando um pouco cansativo.
Na trama, somos apresentados a um grupo de pessoas que dorme numa estalagem por causa do atraso de um trem. Entre essas pessoas, está a protagonista, uma jovem que conhece uma velha senhora e fica conversando com ela durante a viagem (o trem só sai na manhã do dia seguinte). Quando ela tira um cochilo, a velhinha some. E quando a moça começa a perguntar pela velhinha, todas as pessoas do trem dizem que nunca viram essa senhora, mesmo tendo visto. A moça começa a ficar perturbada, e um médico até chega a dizer que ela teria criado em sua mente essa velhinha por conta de uma pancada na cabeça.
Hitchcock disse nas entrevistas dos livros Hitchcock/Truffaut e Afinal, Quem Faz os Filmes que essa estória foi inspirada numa velha lenda inglesa do século XIX. Recentemente, no filme OS ESQUECIDOS, de Joseph Ruben, até tivemos um ponto de partida semelhante: Juliane Moore é uma mãe que tem a memória do filho apagada e todos dizem que o garotinho nunca existiu de fato.
Voltando para A DAMA OCULTA, uma das coisas que eu mais gosto no filme é o apito do trem, que mais parece um grito feminino de pavor. Isso instala um clima de mistério bem interessante. Também gosto das retroprojeções e das tomadas do trem visto de fora. Dá pra entender porque o trem sempre teve um grande impacto no cinema, desde a exibição de A CHEGADA DE UM TREM À ESTAÇÃO, dos irmãos Lumière, no final do século XIX. Lendo o texto "O Cinema sob os Trilhos", contido no DVD da Continental, fiquei curioso pra ver O MISTÉRIO DO Nº 17 (1932), filme em que Hitchcock faz uma cena de corrida entre um trem e um ônibus, usando maquetes. Mas, se eu não me engano, esse filme não chegou a ser lançado no Brasil.
Já que eu falei do DVD da famigerada Continental, até que não está ruim a qualidade do dito cujo. A imagem está boa. Bom saber, já que pretendo pegar mais dois filmes dessa distribuidora nos próximos dias, antes de botar as mãos no material da Warner.
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