Steven Soderbergh é um cineasta que me passa emoções contraditórias. Adoro os filmes mais lentos dele, como OBSESSÃO (1995), O ESTRANHO (1999) e SOLARIS (2002), bem como a sua estréia na direção, com SEXO, MENTIRAS E VIDEOTAPE (1989). Mas às vezes ele parece afetado, quando resolve trabalhar com montagem rápida de videoclipe. Esse Soderbergh, o videoclipeiro, às vezes me causa irritação. Em DOZE HOMENS E OUTRO SEGREDO (2004) ele consegue mostrar essas duas facetas. Embora a maior parte do filme seja cheia desses cortes rápidos, quando a câmera pára um pouco para mostrar os amantes Brad Pitt e Catherine Zeta-Jones é que se percebe que por mais que o diretor cometa erros, ele tem intimidade com a câmera e conseguiu prestígio suficiente em Hollywood para fazer o que tem vontade. E dane-se se o filme é irregular ou mesmo ruim.
Diferente do primeiro filme, que tinha como base o filme original de 1960, esse filme foi feito apenas para reunir os amigos. Mal comparando, seria como convidar os amigos para um churrasco para bater papo e tomar umas cervejas. Por mais que o churrasco esteja gostoso, é a companhia dos amigos o mais importante. Pena que essa reunião de amigos nem sempre seja agradável para o espectador. Isso porque Soderbergh enche o filme de subtramas e enrola a gente por exatas duas horas. Chegou uma hora no filme que eu simplesmente desisti de entender toda aquela enrolação e fiquei prestando atenção apenas nos cortes, na fotografia, na música, na beleza de Catherine Zeta-Jones, ela que parece a personificação da felicidade mundana para o homem.
Quando o filme consegue passar para a tela a intimidade e o clima de brincadeira entre o elenco, como na cena em que o George Clooney pergunta a uma pessoa quantos anos ela acha que ele tem e ela diz que ele devia ter cinqüenta e poucos anos, quando o filme consegue esse clima, ele se enche de graça. Aliás, essa brincadeira parece ter partido de Brad Pitt, e o diretor achou tão divertida que resolveu colocar nas telas. (A propósito, olhei agora no IMDB e Clooney tem 43 anos.) Outro momento bem interessante é na cena em que a personagem de Julia Roberts (Tess) engana toda a imprensa e os paparazzi, por causa de sua grande semelhança com a Julia Roberts, estrela de Hollywood. Uma brincadeira metalingüística bem divertida.
Não é difícil simpatizar com essa turma. Principalmente com os mais astros Brad Pitt e George Clooney e com as mulheres Julia Roberts e Zeta-Jones. Essa última, por ter já trabalhado tanto com o diretor em TRAFFIC (2000), quanto com Clooney, em O AMOR CUSTA CARO, dos Coen, já parecia estar bem familiarizada com a gangue. Até Matt Damon, que no primeiro filme estava bem apagado, nessa seqüência está bem mais à vontade.
O problema é que além de ter que dar conta de uma trama mal amarrada e cheia de vai-véns no tempo, Soderbergh ainda tem que dar conta dos outros homens. Afinal, são doze agora. O restante da turma, como os personagens de Bernie Mac, Don Cheadle e do chinês Shaobo Qin, fica em segundo plano e a eles são relegados os piores momentos do filme. Andy Garcia continua sendo o cara antipático e sem graça do elenco.
Mas sabe o que eu mais gostei no filme? A seqüência inicial com Zeta-Jones e Brad Pitt, com a câmera cogelando a imagem em Pitt pulando a janela, seguido pelos créditos iniciais ao som de uma versão em italiano de "Sentado à Beira do Caminho", de Roberto e Erasmo Carlos, interpretada pelo cantor Ornella Vanoni. A canção se chama "L'Appuntamento" (O Encontro) e já já vou tentar baixá-la na internet. É por causa desses momentos de beleza plástica e sonora que essa continuação é superior ao filme original. Não é redondo e bem resolvido, mas os seus poucos grandes momentos superam tudo o que foi feito no primeiro filme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário