Chegando o final do ano. E como as chances de filmes como GAROTAS DO ABC, de Carlos Reichenbach, e FILME DE AMOR, de Julio Bressane, ou os novos documentários de Eduardo Coutinho e João Moreira Salles chegarem aqui até o final de dezembro são bem pequenas, já é possível fazer um pequeno balanço dos filmes brasileiros lançados em Fortaleza esse ano.
Pode-se dizer que esse foi um ano fraco para o cinema brasileiro. Nesse ano, não tivemos filmes da estatura de CARANDIRU, O PRÍNCIPE, LAVOURA ARCAICA, EDIFÍCIO MASTER, O HOMEM QUE COPIAVA, CIDADE DE DEUS ou uma obra-prima como O INVASOR, só pra citar exemplos dos últimos três anos. Suponho que os melhores filmes brasileiros já estão finalizados e chegarão por aqui no próximo ano.
CONTRA TODOS, de Roberto Moreira, seria então o melhor filme brasileiro do ano a estrear na cidade. Assim como AMARELO MANGA, é um filme controverso e violento, muita gente odiou, mas por outro lado, não lembro de, durante o ano, algum outro filme brasileiro ter recebido cotação máxima nos dois principais jornais de São Paulo.
A história principal do filme gira em torno de Teodoro (Giulio Lopes), um sujeito que frequenta cultos evangélicos e que nas horas vagas é também um matador de aluguel. O personagem de Giulio Lopes até lembra um pouco o papel de bandido/crente de Benicio Del Toro em 21 GRAMAS, mas bem longe de ser tão ingênuo ou inocente, já que o fato de orar durante as refeições não torna um sujeito que mata e rouba melhor. Dar de presente um apartamento para uma "irmã" da igreja também não é lá uma atitude louvável, se no fundo o cara tinha a intenção de transar com a mulher. (É, eu sei, isso aí é um pecado menor, até dá pra encarar como um investimento futuro, "é dando que se recebe" etc.)
Dentro do painel de personagens principais, temos Leona Cavalli, atriz que ficou famosa ao expor o seu púbis loiro em AMARELO MANGA. Ela é Cláudia, a mulher de Teodoro. Fazendo parte dessa família desestruturada e complicada de entender, temos a bela junkie Soninha (Silvia Lourenço), a filha (?) de Cláudia. Silvia Lourenço, aliás, é a minha favorita do elenco. Bem sexy a menina. Já Ailton Graça - o meu xará, ou o Denzel Washington dos pobres - é Waldomiro, o parceiro de crime de Teodoro. (Seu personagem nesse filme é bem mais "filho da puta" que o mulherengo Majestade em CARANDIRU.) Todos os personagens estão bem amarrados na trama, que se passa numa São Paulo suja e violenta.
A opção por filmar com câmera digital foi acertada, dando um tom documental ou de reality show ao filme. Com isso, se perde em qualidade e beleza de imagem, mas ganha-se com cenas mais realistas e convincentes. Se bem que o epílogo estraga um pouco esse realismo. Mas gostei da reviravolta imediatamente anterior ao final, quando o diretor mostra diferentes ângulos de uma cena, ao mesmo tempo que preenche os buracos da trama. É um filme cínico, é verdade. Mas isso não tira os seus vários méritos.
CONTRA TODOS é o longa de estréia de Roberto Moreira, mas o diretor já teve o privilégio de dirigir um filme de episódios, juntamente com Júlio Bressane e Rogério Sganzerla, entre outros nomes menores (Lúcia Murat, Ricardo Dias e Inácio Zatz). O filme se chamou OSWALDIANAS (1992) e não lembro de ter passado nos cinemas daqui.
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