A noite de domingo começou conturbada pra mim. Cheguei no Marina Park bem mais cedo que meus amigos e minha irmãs e tive de ficar esperando um tempão do lado de fora até a Adaila (minha irmã nº2) me ligar avisando que estava a caminho. O problema foi que a Adília (irmã nº3), que estava trabalhando no stand da Oi, não tinha trazido a carteira de identidade dela e foi barrada na entrada. Enquanto se tentava (em vão) resolver a pendenga, que acabou com xingamento e tudo mais, acabamos perdendo o show do Nando Reis, justamente um dos que eu mais queria ver. Reis fez um show curto e deu pra ouvir um pouco de longe o que estava rolando lá no palco.
Depois de várias ligações, desencontros e estresses chegamos exatamente na hora do show dos Los Hermanos com os Paralamas. O lugar estava super-lotado e todos aqueles corpos naquele empurra-empurra criava um mormaço, uma onda de calor difícil de suportar. Só se sentia um certo alívio quando uma brisa amiga de vez em quando soprava. Começa o show. Apenas os Hermanos entram no palco. Começam com "Tá bom", bela canção de conselho sobre como se deve agir nos momentos em que o coração, depois de tanto sofrer, resiste a amar outra vez. A qualidade do som estava excelente, principalmente levando em consideração o fato de que geralmente nos shows da banda acontecem problemas de som. O show deles durou mais ou menos uma hora e rolaram as canções de praxe da turnê Ventura, em que eles dão preferência às canções dos dois últimos álbuns, incluindo do primeiro disco apenas a maravilhosa "Quem Sabe", de Rodrigo Amarante. Amarante, aliás, parecia estar com espírito melancólico, já que introduziu a frase "mais um pouco de melancolia pra vocês" antes de tocar algumas de suas pérolas ("Sentimental", "Último romance"), além de ter comentado duas vezes sobre a bela lua cheia que estava de frente para o palco, como que também apreciando o espetáculo. A única novidade no repertório foi a inclusão de "Santa Chuva", que Marcelo Camelo compôs para Maria Rita. Taí uma dica pra se procurar na internet: essa canção na bela voz de Camelo.
Emocionante quando sobem no palco os Paralamas. A banda foi importante na minha infância e adolescência e, apesar de de eu ter perdido um pouco o interesse por eles ao longo do tempo, não dá pra negar a importância deles dentro do cenário rocker nacional. Eles tocaram três canções junto com os Los Hermanos: "O Vencedor", "Romance Ideal" e "Meu erro". Essa última, na voz do Camelo, ficou excelente. Depois que os Hermanos saem, os Paralamas fazem quase duas horas de show e mandam sucessos de várias fases da banda: dos skas do início de carreira ("Bora-Bora") às misturas com música brasileira e latina ("Alagados"); das composições com uso de muitos metais ("Selvagem", "O beco", "Pólvora") até as obras mais recentes apenas com o básico baixo-guitarra-bateria ("O Calibre", "Cuide bem do seu amor"), os caras fizeram um showzão. O riff de guitarra de "O Calibre", aliás, é uma das melhores coisas que eles fizeram, assim como a letra da música coincide profeticamente com o momento difícil em que se encontra Herbert Vianna. Pra fechar, a acertada cover de "Que país é esse?", da Legião.
O show seguinte foi do Capital Inicial. Não é uma banda que eu admiro, mas, ao mesmo tempo, eles têm muitas canções que eu gosto. Nunca foi uma banda de bons álbuns. O melhor disco deles é o Acústico MTV, praticamente uma coletânea de sucessos, só que com novos arranjos. (Eu diria que o disco deles é o melhor Acústico produzido pela MTV brasileira.) Apesar disso, o show deles foi um dos mais divertidos da noite. No começo do show, fui lá pra frente com o Zezão, a Marcélia, a Juliana, a Eveline e o Aragão. Lá perto do palco estava mais lotado que ônibus do Paranjana, mas como eu estava de bom humor, até ficava fazendo piadinhas ("velho, é bom aqui que tá vaguinho.."). Quando eles disseram que iam mandar um punk rock pra agitar o show, eu sabia que a gente estava correndo o risco de ser esmagado pela massa. O negócio era dar uma de selvagem também e dançar no esquema empurra-empurra, como se estivéssemos sendo levados pelo mar. E a música ajuda: "Veraneio Vascaína" tem um riff de guitarra matador. As canções que eu ouvia e cantava várias vezes na época que estava em fim de namoro, como "Tudo que vai" e "Primeiros Erros", foram um prazer de se ouvir. No fim das contas, o show foi bem legal, apesar de algumas das músicas novas serem bem fracas.
Depois disso, era relaxar, já que o Cidade Negra, a próxima banda, não faz a minha cabeça. Na hora do show do Cidade era hora de ir comer, descansar, conhecer os outros ambientes, dar uma passada no Mucuripe Clube. Praticamente nem percebi o que a turma do Toni Garrido estava tocando. A bandinha é chata, mas também pode ser inofensiva.
Depois disso, vieram os picaretas do Biquiini Cavadão. Só aqui mesmo em Fortaleza que os caras fazem sucesso. Tanto que vieram gravar o DVD deles no Ceará Music. Chamo-os de picaretas porque eles fazem show de covers de outros artistas pra disfarçar a maior parte de suas composições medíocres. Todo ano eles vêm e fazem o mesmo show. E o público vibra assim mesmo. Até o discurso do Bruno é o mesmo, elogiando o rock dos anos 80, que naquele tempo faziam música com a cabeça, e não com a bunda e tal. Mas como o cara é humilde e simpático a gente deixa passar.
Na hora do show da Fernanda Abreu com a Bateria da Portela, foi hora de puxar o carro, porque a Fernanda Abreu parece que faz uma música só. E ruim ainda por cima. Não sei como ela não sente complexo de culpa ganhando dinheiro fazendo essas coisas.
Uma pena que o rock independente não tenha espaço nesse festival. Só não sei até quando o público vai agüentar todo ano ver as mesmas carinhas manjadas na programação. Já estamos na metade da primeira década de 2000 e até agora poucas bandas novas surgiram dentro do mainstream. Boas bandas têm, mas a mídia burra não dá espaço e prefere botar pra tocar coisas como Detonautas, CPM22 e Charlie Brown Jr. E com todo esse problema gerado pelas baixas vendagens dos discos (preços caros, facilidade de se baixar pela internet ou de se gravar um cd caseiro), a coisa fica ainda mais complicada. A saída, então, é procurar ouvir algumas bandas boas através de dicas de amigos, fazer propaganda boca a boca (se for o caso) e torcer pra que um dia algumas dessas boas bandas possam sair dos pequenos bares e ser ouvidas por um público maior.
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