terça-feira, abril 13, 2004

SLEEPLESS (Non ho sonno)



Assim que SLEEPLESS (2001) começou a rodar no meu dvd player, eu fiquei bem entusiasmado. No prólogo, vemos um confuso incidente que aconteceu em 1983 envolvendo um garoto, sua mãe morta e um policial (Max Von Sidow), que promete ao garoto pegar o assassino de sua mãe. Depois disso, salto para os dias atuais, onde uma prostituta, sem querer, descobre que acabara de fazer sexo com um serial killer. A sequência do trem é fantástica, com a mulher desesperada, com medo de que o assassino a encontre, correndo pelos vagões. O trem é de dar arrepios, já que é escuro e está praticamente vazio. O clima da chuva à noite remete à atmosfera de SUSPIRIA (1977). E Argento não poupa o espectador mostrando o assassino cortando com a faca os dedos da mulher.

Infelizmente, depois dessa excelente cena, o filme cai numa história ridícula difícil de engolir e, ainda por cima, tediosa. Salvam-se as cenas de assassinato (destaque para a cena em que uma mulher morre a golpes de clarinete), mas isso não chega a compensar as deficiências da trama. E olha que eu sei que roteiro não é a coisa mais importante do mundo num filme, ainda mais num horror gótico italiano ou num giallo.

O filme passou na Mostra de Cinema do Rio e foi recebido com gargalhadas de escárnio pela platéia, o que irritou bastante os fãs de Argento presentes na sessão. O Renato estava lá e testemunhou o ocorrido.

Quem gostou do filme fala que é uma volta por cima do diretor, quando ele retorna ao festejado giallo, depois do fracasso retumbante do horroroso UM VULTO NA ESCURIDÃO (1998). Tanto que ele chamou de novo o pessoal do Goblin pra fazer a trilha sonora, o que ajudou bastante o filme. O Goblin já tinha trabalhado com o Argento em PRELÚDIO PARA MATAR (1975), TENEBRE (1982) e PHENOMENA (1985). Lembro que quando vi as cenas de morte com a trilha do Goblin em PRELÚDIO PARA MATAR, tive um sentimento misto de terror e prazer, como se eu estivesse liberando o meu lado sádico.

O que diferencia os thrillers de Argento dos outros é que, nos filmes dele, sempre há um elemento sobrenatural, deixando o mistério muito mais forte. É só lembrar da cena da sessão espírita em TRAUMA (1993) e dos espelhos cobertos em PRELÚDIO PARA MATAR. (Eu, particularmente, até prefiro os filmes de horror puro do Argento, como SUSPIRIA e A MANSÃO DO INFERNO (1980), do que os filmes de assassinos.) Esse mistério que se aproxima do sobrenatural está pouco presente na atmosfera de SLEEPLESS, mas pode ser visto na possibilidade de os crimes serem cometidos pelo fantasma do anão, ainda que isso seja algo bem pouco provável.

Uma pena que o primeiro filme de Dario Argento lançado em dvd no Brasil tenha sido logo um dos mais fracos. Mas ainda bem que a edição dupla do maravilhoso SUSPIRIA está aí para contra-balançar. Vamos torcer por uma volta por cima de verdade do maestro em IL CARTAIO. E torcer também para que os clássicos de sua filmografia sejam lançados em dvd em edições de respeito.

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