quarta-feira, março 31, 2004

SIDNEY LUMET EM DOIS FILMES



Estou bem atrasado com os comentários desses filmes do Lumet. Já faz tempo que os vi e acho que esqueci um monte de coisa. Recentemente li a entrevista do diretor no livro “Afinal, quem faz os filmes”, de Peter Bogdanovich, e me deparei com algumas opiniões radicais dele. Nem me refiro àquela que comentei quando falei sobre PACTO DE JUSTIÇA. O que mais me impressionou foi sua opinião sobre a inutilidade do formato CinemaScope. Segundo ele, essa formatação mais retangular que veio para competir com a televisão nos anos 60 é desnecessária. Parece que ele não era o único a ter essa opinião. Vi no blog da Vaquinha Eugênia que o Einsenstein dizia que o formato só servia para filmar cobras e funerais. Não deixa de ser uma opinião engraçada. Mas o velho Einsenstein é do tempo do cinema mudo. E esse pessoal mais velho quase sempre tem uma certa resistência a mudanças. Vamos aos dois filmes.

LONGA JORNADA NOITE ADENTRO (Long Day’s Journey Into Night)

Teria gostado mais desse filme se ele fosse um pouco menor na duração. Mas não há a menor dúvida que é um grande trabalho adaptado de uma prestigiada peça de teatro. LONGA JORNADA... (1962) é baseado numa peça de Eugene O’Neill. Portanto, para se apreciar esse filme, deve-se ter uma predisposição para ver teatro adaptado para cinema, coisa que pode ser um tanto cansativa. Eu, pelo menos, acho até melhor ler peças do que ver adaptações delas para o cinema. Exceção, é claro, para os filmes baseados em Shakespeare, que combinam fantasticamente com o cinema e são cheios de cenas externas. Acho até que se Shakespeare vivesse nos dias de hoje ele seria cineasta e não dramaturgo. O filme de Lumet traz um desempenho excelente de Katharine Hepburn como a matriarca da família que sofre de dependência química. Mas não é só ela que tem problemas na família: o marido (Ralph Richardson) é mão-de-vaca; um dos filhos (Dean Stockwell) está com tuberculose e tem poucas chances de sobreviver; e o outro é alcoólatra e tem complexo de rejeição. Parece que O’Neill, assim como Tenessee Williams, é da leva de dramaturgos que gostava de mostrar a decadência da família americana. Eu não curto muito ver bêbados chatos no cinema, mas a gente dá um desconto. Visto em fita selada.

OS DONOS DO PODER (Power)

Esse filme de 1986 é um Lumet político. Interessante porque mostra quem está por trás dos políticos: os assessores de marketing (nem sei se posso chamar assim). Me refiro àquelas pessoas que fazem um belo trabalho de propaganda política para os candidatos a algum cargo nas eleições. Há pouco tempo vimos o que uma boa propaganda pode fazer para um candidato. Lembram da excelente campanha do Lula? Aquilo ali foi feito com muito cuidado e ajudou, e muito, a eleger o homem. Nesse filme, o assessor é Richard Gere, num papel que caiu bem pra ele. Também no elenco Gene Hackman, Julie Christie, Kate Capshaw e Denzel Washington. Apesar de ser belamente dirigido e interpretado, não me empolgou muito. Gravado da TNT.

Esses dois filmes não são bem os meus preferidos do Lumet. Ainda prefiro os ótimos UM DIA DE CÃO (1975), REDE DE INTRIGAS (1976) e O PESO DE UM PASSADO (1988). Aliás, esse último vai passar na TNT no mês de abril, assim como o não tão elogiado TÃO CULPADO COMO O PECADO (1993).

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