domingo, fevereiro 02, 2003

OS FILMES DA CONVALESCENÇA

Alguns comentários rápidos dos 10 filmes que peguei na locadora pra ver durante esse período de recuperação. Eis os filmes:

TRISTANA

Excelente filme de Luis Buñuel. Pra mim, é uma obra-prima do nível de A BELA DA TARDE, O ANJO EXTERMINADOR e ESSE OBSCURO OBJETO DO DESEJO. Descobri que gosto mais de Buñuel do que de Bergman, apesar de me identificar mais com esse último. Acontece que o espanhol tem um poder muito maior de nos prender a atenção. Ele, assim como David Lynch, mesmo sem entregar o jogo e às vezes apresentar filmes herméticos e cheios de simbolismos, traz aquela coisa enigmática que está sempre nos convidando a continuar vendo. Sem falar na habilidade narrativa. TRISTANA é um dos filmes mais acessíveis do mestre. Não tem muitas complicações narrativas. É a história de Tristana (Catherine Deneuve) que fica órfã e vai morar com o velho Fernando Rey, que fica sendo seu tutor, mas que também a possui. Completando o trio principal tem Franco Nero como o amante de Tristana. Mas quem pensa que o filme é só mais uma trama de traições, não sabe o que vai acontecer com a moça. Quem me despertou a curiosidade pra ver o filme foi Eduardo Aguilar, que comentou de certa semelhança deste com ESTRANHO ENCONTRO, do Khouri. Está lá a mulher que vive com um velho sem sentir amor e está lá uma certa perna postiça. A diferença é que Khouri fez o seu filme em 1958 e Buñuel em 1970. Será que houve uma certa homenagem ao nosso querido diretor brasileiro?

O FANTASMA DA LIBERDADE (Le Fantome de La Liberté)

Esse filme de Buñuel é um dos que ele exercita com mais liberdade o surrealismo. O filme não tem elenco fixo, não tem uma história única, mas uma série de acontecimentos inusitados acontecendo a diferentes pessoas. O filme começa na época das Guerras Napoleônicas, mas logo vem para a época atual (anos 70). Tem cada loucura que só vendo: tem um sobrinho querendo transar com sua tia velhinha; uma casa em que as pessoas, em vez de almoçarem, sentam em privadas e conversam à mesa; uma estátua que dá um tapa no sujeito que beijou a outra estátua; um carteiro que entra de bicicleta no quarto de um casal etc. Tem muita situação engraçada e surreal. E mesmo o filme não seguindo uma linha comum e não entregando os simbolismos que aparecem na tela, é cada vez mais instigante e estimulante. Luís Buñuel é o cara. Ele ainda é o maior cineasta espanhol de todos os tempos. Será que o Almodóvar chega lá?

KEOMA

Vi em duas partes esse filme do Enzo Castellari. Pra falar a verdade, não gostei muito. A primeira metade é chata pra cacete. Os diálogos são muito ruins. O filme cresce na segunda metade com aquela cena do tiroteio, da morte do pai de Keoma. Aquelas tomadas de Keoma parecendo Jesus crucificado na chuva também ficaram muito boas. Mas o filme ainda é sub-Leone e sub-Peckinpah. O próprio Franco Nero em entrevista no DVD falou que tinha dias nas filmagens de KEOMA que o Castellari dizia: hoje vamos fazer Peckinpah, referindo às cenas de tiroteios em câmera lenta. Ah, na caixinha do DVD diz que o filme tem faixa de comentário do diretor, mas é mentira. Não dá pra confiar no que diz nas caixas de DVD. Além do filme, só trailler e entrevista de 10 minutos com Franco Nero. Mas quanto ao filme, serviu pra aumentar a vontade de ver filmes de Leone, Peckinpah e John Ford.

AMOR MAIOR QUE A VIDA (Waking the Dead)

Interessante filme de Keith Gordon sobre o amor entre duas pessoas com ideologias políticas totalmente diferentes. Billy Crudup é de direita, quer ser senador; Jennifer Connelly (linda) é uma moça de esquerda, quer defender os povos injustiçados das repúblicas ditatoriais, como o Chile, por exemplo. As coisas mudam quando ele vê no noticiário sobre a morte dela. O filme é contado em flashbacks, alternando anos 70 e 80 e trazendo um final enigmático. Bonito filme. Só achei que fosse mais...apaixonado.

POLLOCK

Filme de Ed Harris sobre o pintor americano Jackson Pollock. O filme é bem tradicional, contando vários períodos da vida do pintor, mas focalizando especialmente no relacionamento dele com Marcia Gay Harden, que ganhou o Oscar por esse papel. No elenco, num papel pequeno, a bela Jennifer Connelly. Filme interessante, mas de pouco impacto.

PERSONA

Um dos filmes mais festejados de Ingmar Bergman. PERSONA (1965) mostra a relação entre a enfermeira Alma (Bibi Anderson) e uma atriz (Liv Ullmann). A atriz se fechara em seu próprio mundo recusando-se a se comunicar com qualquer pessoa. Ela é transferida pra uma casa de praia onde as duas mulheres passarão a se conhecer melhor. Isso me lembrou na hora filmes do Khouri (AMOR VORAZ e PAIXÃO PERDIDA). Mas o filme de Bergman é mais cheio de segredos. Tantos segredos que eu queria até que alguém me explicasse. Vi que no site Kinoeye tem uma interessante análise do filme, intitulada "Woman as Vampire". O filme tem imagens belíssimas - cortesia do fotógrafo Sven Nykvist - , algumas parecem saídas de filmes de terror expressionistas. Depois vou dar uma lida a respeito pra aprender mais sobre esse filme.

O OLHO DO DIABO (Djävulens Öga)

Bergman não era muito bom fazendo comédias. Acho que o forte dele é filme de gente cortando os pulsos. Heeheh.. Mas O OLHO DO DIABO (1960) até que é legal. Tem também no elenco a Bibi Anderson. A trama do filme é curiosa: o diabo encontra um terçol no olho e descobre que isso é causado por causa de uma donzela que preserva a sua virgindade. Ele manda, então, Don Juan para conquistar e deflorar a moça. O filme começa bem, mas cansa um pouco a partir da metade.

MONIKA E O DESEJO (Sommaren med Monika)

Na capa da fita da Continental tem uma frase de Godard dizendo: "O filme mais bonito do mais original dos cineastas.". Pra mim, o mais bonito continua sendo MORANGOS SILVESTRES, mas MONIKA E O DESEJO (1952) é um filme bem legal. Pena que a Continental fez uma bruta duma sacanagem fazendo um widescreen falso para esconder as legendas em inglês antes de piratear a cópia americana. Uma vergonha. Além de perder o filme nos lados, ainda perdemos em cima e em baixo. Uma outra coisa que me incomodou foi a falta de sex appeal da protagonista. Não gostei muito dela. Ainda bem que Bergman foi encontrar mulheres mais belas nos seus filmes seguintes (Bibi Anderson, Liv Ullman).

MEU NOME É COOGAN (Coogan's Bluff)

Dobradinha Don Siegel-Clint Eastwood. Como sempre, competente. Não tem o brilhantismo de outros filmes de Siegel, principalmente O ESTRANHO QUE NÓS AMAMOS, mas o filme tem ritmo, tem o charme de Clint e tem humor. Por falar no charme do homem, eu como representante da classe masculina, acho o cara muito mais talentoso na arte de conquistar o mulherio do que qualquer James Bond. Lembro que minha irmã, certa vez, quis ver POR UNS DÓLARES A MAIS só por causa dele. E acabou adorando o filme de Leone. No quesito humor, legal ver a separação entre os cowboys do Texas e os novaiorquinos civilizados. E pra eles, tanto faz nascer no Texas como no Arizona. Pra eles, é tudo Texas. Até faz lembrar do pessoal do sul que chama todos os nordestinos de Paraíbas. Mesmo quando o sujeito nasce no Piauí. Hehhehe..

JAMON JAMON

Esse filme de Bigas Luna mantém a tradição de conter cenas de sexo bem sensuais como em AS IDADES DE LULU e OVOS DE OURO. Diferente de OVOS DE OURO, o filme até elogia a masculinidade, em vez de mostrar o crepúsculo do macho. No filme, Penélope Cruz é apaixonada por um rapaz, mas a mãe dele não permite o namoro dos dois e trata de contratar um amante de aluguel pra conquistar a moça. O tal amante é Javier Bardem, que logo no começo do filme fica de pau duro quando está toureando. Tem tara pra tudo nesse mundo, né? Em outra cena, ele e um amigo querem tourear à noite e nús. O filme tem um monte de situações engraçadas e a personagem de Penelope Cruz (ou Cruise?) com aquele jeitão largado e com aquele vestidinho que parece que está caindo passa uma sensualidade que só vendo. Ainda bem que eu vi esse filme antes da cirurgia. Hheheeh..

Até a próxima!

Nenhum comentário:

Postar um comentário