terça-feira, setembro 03, 2002

CIDADE DE DEUS

Fernando Meireles foi o diretor de um dos filmes brasileiros mais odiosos que eu já tive o desprazer de ver - DOMÉSTICAS, O FILME. Esse filme deu um mal estar desgraçado de ver, já que o cinema há tempos deixou de ser diversão popular. Ver um monte de dondoca e mauricinho rindo de empregadas, sempre mostradas como burras e feias, foi de doer. Por isso, fiquei achando que eu não ia gostar desse CIDADE DE DEUS, do mesmo diretor.

Mas que nada. CIDADE DE DEUS é um filme-acontecimento. Uma maravilha narrativa. O modo como ele mostra o comércio ilegal de drogas nas favelas (as bocas) chega a ser didático. Além de tudo, os personagens impressionam, alguns ganham a nossa simpatia (Bené, Mané Galinha e Buscapé) e outros despertam a ira (Zé Pequeno). Impossível não lembrar de OS BONS COMPANHEIROS e CASINO, ambos de Martin Scorsese. Assim como esses filmes, a narração em off do personagem Buscapé começa numa década e pára em outra, apresenta vários personagens e tem doses fortes de violência. A diferença é que não estamos em Nova York ou Las Vegas. Estamos numa favela carioca. Bem mais perto da gente.

Se vemos o filme dentro da sua proposta narrativa e não como uma tentativa de mudar o mundo, gostamos mais ainda dele. Sequências de violência assustadoras como a de Zé Pequeno atirando no pé de uma criança de 5 anos são de cortar o coração. Não dá pra esquecer de Buscapé sofrendo feito um condenado e ganhando uma mixaria tentando fugir do destino de quem geralmente habita a Cidade de Deus. Não dá pra esquecer da despedida de Bené. Não dá pra esquecer o bando de Zé Pequeno metralhando a casa de Mané Galinha. E nem dá pra esquecer que quem interpreta Mané Galinha é Seu Jorge, cantor que já morou na rua, feito mendigo.

O elenco, formado por gente da própria favela, está extraordinário. Mateus Nachtergaele está muito foda como o traficante Cenoura. Já até estou em dúvida se o melhor filme brasileiro do ano é esse ou O INVASOR. Sem falar que o nosso cinema está atraíndo novamente a atenção do mundo.

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