quinta-feira, março 20, 2003

ZWAN - "MARY STAR OF THE SEA"



Billy Corgan falou no Jornal da MTV que não dá pra fingir felicidade. Você pode fingir tristeza - tem muitas bandas ganhando dinheiro com isso por aí - mas felicidade não dá pra fingir.

"Mary Star of the Sea", o disco do Zwan, a nova banda de Corgan, traz isso, essa vontade de cantar, de exaltar a vida, expor a alegria. Isso é até corajoso de se fazer - há o risco de se ficar superficial, mas Corgan tem inteligência e sorte para escrever letras inspiradas.

Na faixa "El Sol", uma das mais belas do disco, ele diz:

"soon i'll be feeling left for dead
sometimes someone saying yes
changes what you'll bet"

Isso abre as portas para um futuro excitante, onde dizer "sim" muda todo o curso da situação. Há uma consciência do que é passageiro, de que essa alegria é passageira, mas, ao mesmo tempo, há uma supervalorização desse momento. No álbum MACHINA, Billy Corgan já manifestava essa alegria em algumas faixas.

O som das guitarras também funciona como agente "exaltador". Esse som lembra o que foi feito no álbum SIAMESE DREAM dos Smashing Pumpkins. Aliás, esse disco é um raio de sol na discografia dos Pumpkins, que tem disco angustiante (GISH), melancólico e existencialista (MELLON COLIE AND THE INFINITE SADNESS), obscuro (ADORE) e enigmático (MACHINA). No documentário presente no DVD VIEUPHORIA, Corgan fala das diferentes guitarras usadas para se produzir sons tristes e angustiantes, como em GISH ou alegres como em SIAMESE DREAM.

No novo projeto, Corgan abandona um pouco os enigmas de MACHINA e traz letras mais simples e de fácil assimilação, ainda que o lado de religiosidade deixe algumas pessoas um pouco confusas.

Uma das coisas mais surpreendentes no disco do Zwan é a religiosidade. Desde o U2 não se via uma super-banda se utilizar da fé e do Cristianismo como elementos principais da obra. A faixa mais abertamente cristã é "Jesus, I", que faz dobradinha com a faixa título ("Mary Star of the Sea"), somando um épico viajante de mais de 10 minutos.

O desapego às coisas materias está presente em "Desire" e "Ride a Black Swam"; a fé chegando pra abalar em "Lyric", "Settle Down" e "Declaration of Faith"; a alegria de estar junto de quem se ama no primeiro single "Honestly"; a balada relaxante em "Of a broken heart"; a canção que fala por si mesma em "Heartsong"; o carpe diem de "Endless Summer"; a auto-estima elevada em "Baby, let´s rock"; o poder da vontade em "Yeah". O disco termina com a chamada de Corgan em "Come with me", ao som de gaitas que lembram folk.

Um super-disco. Pra ouvir, preferecialmente, quando se estiver feliz.

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