quinta-feira, agosto 26, 2021

A LENDA DE CANDYMAN (Candyman)



O MISTÉRIO DE CANDYMAN (1992), de Bernard Rose, já foi representativo ao trazer o primeiro personagem sobrenatural negro em um slasher americano. Jordan Peele quis reivindicar o personagem para si, para a população negra, e também trazer personagens negros para o protagonismo – e não uma fotógrafa branca, como a personagem de Virginia Madsen, no primeiro filme. Passados quase 30 anos, muita coisa mudou na sociedade e, consequentemente, no cinema também. As pautas dos últimos anos se tornaram cada vez mais urgentes e o número de cineastas negros cresceu, inclusive dentro do gênero horror.

Com a estreia de A LENDA DE CANDYMAN (2021), dirigido por Nia DaCosta (PASSANDO DOS LIMITES, 2018), e com produção e participação no roteiro de Jordan Peele, verifica-se uma tendência de se preocupar mais com as heranças da escravidão e da ainda muito presente questão racial nos Estados Unidos. Mas, se por um lado, do ponto de vista do envolvimento que geralmente se espera de filmes de horror, eu não tive tanta conexão com esta continuação, isso não quer dizer que não tenha sido uma obra que não tenha me causado um impacto pela beleza de sua construção visual, que ajuda a compensar um pouco a simplicidade do enredo original. Destaques para as cenas criativas das mortes das vítimas de Candyman, de uma beleza plástica admirável.

DaCosta redimensiona a entidade dentro de um novo momento do cinema e da sociedade. Logo, é um filme reflexivo até quando não precisa dizer nada explicitamente, como nos momentos em que aparecem mais pessoas negras na galeria de arte do que pessoas brancas. Outro elemento muito bonito do filme é a questão do artista se transformando em arte, o que leva, mais à frente, à discussão sobre o fato de que os brancos sempre gostarem da arte produzida pelos negros, mas não gostavam dos negros.

Na trama, Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen II) é um artista plástico à procura de um tema, de uma inspiração. Ele divide o apartamento com sua namorada, Brianna Cartwright (Teyonah Parris), diretora de uma galeria de arte. Ele se inspira nos casos ocorridos em um espaço abandonado de Chicago, onde nasceu uma lenda urbana um tanto esquecida de uma entidade que aparece no espelho, quando invocada cinco vezes, Candyman.

O filme possui alguns problemas de ritmo, não sei se por causa da direção ou da montagem. Talvez seja o caso de terem cortado mais cenas do que deveriam – as sequências finais são as mais prejudicadas. Ainda assim, diria que isso é um detalhe e talvez A LENDA DE CANDYMAN seja um dos mais importantes lançamentos do ano, pelo que se propõe e pelo que apresenta formalmente.

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