sexta-feira, março 12, 2004

A ESSÊNCIA DA PAIXÃO (House of Mirth)



"Não basta ser sincero,
ter caráter, ser honesto,
gotta work, like Kirk e o vulcano
oh, meu Deus, quanta luta, quanta luta..."


"Spoc" (Pato Fu)

Sim, meus amigos. Estou muito cansado e muito triste por ter que trabalhar tanto. Já não tenho mais gás pra agüentar essa rotina de trabalhar os três turnos e viver cada vez mais quebrado e endividado. Pelo horóscopo da Susan Miller, isso se deve ao grande fazedor de tarefas, o impiedoso Saturno, que tem forçado a humanidade a trabalhar mais, a dar duro. Saturno retomou o seu movimento direto com gás total. Mas tem nada não. Coisas boas surgirão para o futuro. Assim dizem. Assim espero.

Por estar nesse estado de quebradeira física e financeira, me identifiquei bastante com a personagem de Gillian Anderson nesse ótimo drama de Terence Davis, baseado em romance de Edith Wharton, a mesma autora do livro que deu origem ao filme A ÉPOCA DA INOCÊNCIA (1993), de Martin Scorsese. A ESSÊNCIA DA PAIXÃO (2000), apesar de não ter a força da mão de Scorsese, possui muito em comum com o filme americano e passa muito bem todo o sentimento da protagonista e o espírito da época.

O filme fala sobre as oportunidades que a gente perde na vida, sobre as imposições da sociedade, sobre amar alguém e ter que desistir da pessoa por causa de dinheiro, sobre conservar a todo custo a aparência de que as coisas estão bem, apesar de tanta dor por dentro. Gillian Anderson tem um desempenho excepcional como Lilly, a mulher que tem a fama de caçadora de maridos e por isso, apesar de sua beleza e inteligência, é temida por vários homens. Quem diria que a cerebral agente Scully de ARQUIVO X se daria tão bem em filmes dramáticos como esse e CORAÇÕES APAIXONADOS (1998). Ela está em melhor posição que o seu ex-parceiro David Duchovny, que nem tem escolhido bons papéis no cinema.

Eric Stolz é a paixão da vida de Gillian no filme. A cena do beijo entre os dois é um dos pontos altos do filme e é cheia daquela paixão reprimida, prestes a explodir. Outros atores em papéis de destaque no elenco: Dan Aykroyd e Laura Linney.

Pena ter terminado de ver o filme ontem, com o corpo muito cansado. Mas a experiência me fez sentir mais próximo da protagonista. Principalmente porque terminei de ver o filme a partir do momento da decadência da personagem, quando ela se sente exaurida, por causa do trabalho e das pressões que a vida lhe impõe.

Interessante notar que no universo das escritoras Edith Wharton e Jane Austen as mulheres são sempre mais psicologicamente interessantes do que os homens, que são mostrados de maneira superficial, ainda que fundamentais na vida delas. A mulher nessas obras é cheia de complexidades mentais e emocionais, tornando-a mais rica, mais espiritualmente evoluída. Mas nada mais natural: essas escritoras estavam falando do universo que elas conheciam muito bem: o seu próprio.

Nenhum comentário: